Despertar

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Jason dormiu sentado na poltrona, parecia finalmente ter se acalmado; Bruce adormeceu sentado no chão, olhou para o filho até pegar no sono; Dick foi o único que dormiu na cama junto à Damian, também foi o único estirado em uma posição desconfortável com o celular caído sobre o rosto; Alfred, que apesar de toda a preocupação com o jovem Patrão Damian, se recolheu nos aposentos e dormiu dignamente – isso depois de deixar a bandeja na cozinha, com seus sanduíches de pepino prontos para serem esquentados quando a criança despertasse.

Damian também dormia, mas estava em meio a um pesadelo. Pesadelo tal que já tinha o feito se remexer, murmurar palavras e agora gritar em pânico, acordando aos outros:

Jason tropeçou nos próprios pés quando se levantou, mesmo assim tateou as paredes até encontrar o interruptor – apesar de já estar próximo ao amanhecer, Gotham é sombria. Dick gritou em conjunto com o irmão mais novo, demorando alguns segundos até entender que era o próprio celular que pressionava seu rosto.

Bruce foi o primeiro a fazer o que deveria ser feito, quiçá foi o primeiro realmente a acordar: ele agarrou o filho em um abraço, disse que estava tudo bem, avisou que era apenas um pesadelo e que ele não estava sozinho. Os outros dois rapazes ficaram observando-os próximos da cama.

Depois de se agarrar ao pai e continuar chorando por alguns minutos, Damian já estava mais calmo: lá só estavam seu pai e seus irmãos mais velhos, não haviam pessoas vestidas de verde fazendo tudo ficar em tons de vermelho. Também não havia cinza, mas tudo estava claro.

— Enquanto eu estiver aqui, comigo, nada vai acontecer — Bruce prometeu enquanto afrouxava o abraço. Apesar de soluçar, o filho já estava melhor para limpar as próprias lágrimas.

— Deve ter sido um sonho bem ruim, mas foi só um sonho.

Em resposta ao comentário amável de Richard, Damian apenas escondeu o rosto como conseguiu, abraçando o pai novamente. Estava tímido e se achando patético, afinal, já tinha 13 anos e não deveria chorar daquele jeito por um sonho ruim. Ele ficou ainda mais incomodado quando Jason perguntou:

— E como foi o pesadelo?

— Deixe ele, logo ele esquece esse sonho...

— Mas, mas...! — Damian protestou ainda com a voz embargada — Haviam pessoas horríveis, tudo era vermelho, tinham coisas estranhas e no final tudo foi destruído! — Ao fim do pequeno relato, ele já chorava mais uma vez. Ao menos conseguiu dar a ideia de que havia motivos para chorar, pensou ele.

— Eu gosto de vermelho — Todd sorriu de canto, se sentando na cama ao lado deles.

— Pela santa paciência... — Dick murmurou antes de um bocejo, repetindo as ações do irmão rebelde.

— Eu odeio palhaços. — Finalmente chamando a atenção de Damian para si, Todd continuou: — Às vezes sonho com um palhaço esquisito com um pé-de-cabra que quer me acertar.

— E você tem medo dele?

— Não, não mais... — Ele bocejou e espreguiçou antes de continuar: — Porque quando tudo começa a ficar assustador, eu sei que só pode ser um pesadelo. Sabe, quando você descobre que está em um sonho, você começa a controlar ele.

— Acho que eu sabia disso, mais ou menos. — Mais uma vez, a criança passou as mãos pelo rosto sem derramar mais lágrimas.

— Eu aposto que você nunca tentou fazer um patinete virar um robô gigante exterminador de palhaços! — O rapaz deu uma piscadela, sorrindo de canto.

— Vou tentar da próxima vez... — Damian sorriu.

Notando que o filho finalmente estava calmo, Bruce o ajeitou na cama novamente. Fez quase um ninho de almofadas para que o pequeno ficasse confortável.

— Deve estar com faminto — ele comentou, já caminhando para a porta.

— Não! — Dick e Jason gritaram em uníssono, os dois praticamente pularam para ficar de pé e alcançar o "pai".

— Não o quê?

— Eu pego alguma coisa comível pro Damian, pode deixar comigo! — Dick sorriu e correu para fora do quarto.

— Estão insinuando que eu não sei fazer nada na cozinha, nem usar o micro-ondas!? — Indignado, o vigilante noturno de Gotham colocou as mãos na cintura e encarou o outro rapaz.

— Eu vou pegar alguma coisa bebível! — Jason avisou, correndo da pergunta também.

Não precisava ser o maior detetive do mundo para saber que os talentos de Bruce Wayne se estendiam por várias áreas, mas gastronomia não era uma delas. Ao menos aquela desfeita valeu como forma de arrancar de Damian alguns risos abafados pela própria mão.

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NOTAS

De acordo com o livro Batman: Você Escolhe (ed. 01, pág. 79), que está disponível no Google Livros, Batman fez um ótimo cozido com a cura do gás do riso, ao custo de passar uma semana tomando antiácidos.

No filme Lego Batman, ele sabe usar um micro-ondas. Apesar de ter colocado o tempo errado na primeira tentativa.

Foram as únicas coisas queencontrei sobre ele estar fazendo algo "comestível" em uma cozinha, claro, usandoguia de pesquisa do Google (não me lembro de já ter visto ele cozinhando algonem nas animações e nem nos quadrinhos).

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