Lustre

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Damian acordou com o próprio grito de dor.

Ele se encolheu e segurou a cabeça com força, se virando de um lado para o outro na cama.

A escuridão do quarto o fez ter dúvidas se ele conseguiu abrir os olhos ou eles ainda estavam fechados devido à tamanha algia.

Um relâmpago que iluminou o quarto o fez ter certeza de que estavam abertos, porém. Também o fez ter certeza de que não foi um monstro que o atacou enquanto ele dormia ou algo do tipo, que o barulho alto e repetitivo não era a tal fera arranhando o assoalho com as garras: era apenas aquele zumbido irritante no ouvido, pior do que todas as outras vezes, o lembrando de uma vontade descabida de terminar com aquilo.

— ... Se-enhor Pen-nyworth? — chamou quase em um sussurro, se obrigando a prender os soluços do choro para conseguir falar.

Silêncio.

E com o silêncio, a criança tentou se enrolar nos cobertores e dormir mais uma vez, mas aquele zumbido só piorava tudo: o deixava com medo, medo do que ele mesmo poderia ser capaz de fazer para terminar com aquilo...

— ... Senhor Pennyworth! — ele chamou novamente, se forçando a falar mais alto.

Além do silêncio na mansão, haviam os trovões do lado de fora.

Depois de alguns minutos se contorcendo na cama, Damian acabou se obrigando a levantar e ir atrás de alguém. Quando colocou os pés no chão, conseguia sentir como se tudo estivesse se movendo ao redor dele. Precisou de segundos até conseguir coragem e dar alguns passos – se apoiando sempre em algo.

— Senhor Pennyworth! — insistiu, dessa vez chamando o mordomo da porta. Por algum motivo ainda desconhecido por ele, ficar sozinho parecia ser o mais próximo de uma tortura.

Não havia nem sinal de Alfred.

Não havia ninguém.

A mansão estava com todas as suas luzes apagadas, salve a do quarto de Tim.

Damian se encolheu, apertando as mãos contra a cabeça e permitindo que as lagrimas escorressem. Ele já estava começando a ficar irritado com aquela dor, principalmente porque ela o fazia chorar. Ele chorava, chorava bastante e por qualquer coisa, mas aquela dor... ele sabia de algum jeito que já tinha sentido dores piores do que aquela...

— Dick...! — sussurrou para si mesmo interrompendo todos os pensamentos. Ele caminhou com seus passos lentos até o quarto do irmão mais velho — Dick? — chamou depois de bater suavemente na porta, dando-se a liberdade de abrir quando não recebeu respostas. Ele não estava lá, provavelmente havia ido em um encontro com a namorada.

A criança tentou manter a calma e caminhou até a porta ao lado, o quarto do outro irmão, e chamou:

— Jason? Jay...? — Abriu a porta, ficando decepcionado pelo irmão rebelde ainda não ter voltado.

Desesperado, Damian usou o pouco de força que ainda tinha para ir até o quarto do pai, o único com a porta entreaberta. O pequeno simplesmente se deixou cair no chão quando viu que estava vazio também – estava esgotado.

— ... Pai!?

Ele chamou, mesmo sabendo que não adiantaria em nada. Não adiantava quando ele implorava pelo pai durante os exames que aquele médico maldito o obrigava a fazer, não adiantaria agora com Bruce tão longe dele – naquelas reuniões secretas.

— ... Mãe...?

Choramingou, incerto se queria que Selina aparecesse para o abraçar ou se queria que a mãe verdadeira aparecesse para que ele finalmente soubesse quem ela era, por mais problemática que fosse.

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