Vermelho

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Quase tudo era vermelho.

O mesmo vermelho de quando se fecha os olhos com força em um dia de sol: o vermelho de quem busca a escuridão.

Quase tudo era vermelho, com chamas.

As chamas verdes pareciam queimar com veneno, ou qualquer coisa igualmente perigosa com cor salientada. Eram altas.

Quase tudo era vermelho, mas tudo era visível.

As sombras alongadas de criaturas morcego e criaturas humanas, eram as criaturas sombrias que habitavam aquele lugar de rituais.

Quase tudo era vermelho, exceto o que era negro.

As letras desenhando o próprio nome com grafia reconhecível, tão escuras e demarcada quanto os olhares mortos de todos.

Tudo continuou vermelho, mesmo quando Damian deu meia volta e correu na direção contrária daquele altar. Ele correu sem nem mesmo saber onde pisava – ou o porquê de não ter mais um gesso na perna. Ele correu até não ter mais para onde fugir, até a ponta de um penhasco de frente à um sol poente.

Tudo ainda era avermelhado.

A terra, o mar, as nuvens e as gaivotas.

Das gaivotas, uma era mais vermelha. Era ainda maior.

Era grande porque não era gaivota, mas tinha asas – asas de um morcego, ou um dragão, ou qualquer animal feroz que tem presas, dos quais as gárgulas são inspiradas. Um animal mortífero, que como qualquer outro animal deve ter sido um filhote amigável.

A gárgula em vida, vermelha, parecia uma aranha-golias. Ela voou para uma das árvores, repousou nos ganhos e se deliciou com os frutos. Ela não parecia ser perigosa, mas nenhuma aranha é perigosa com a distância adequada.

A copa das árvores e as folhagens no chão era em cinza.

Damian se aproximou um pouco mais, queria se esconder e se aprofundar naquela cor neutra apenas por ser neutro – pois ele não queria mais o vermelho.

Se esgueirando pelos arbustos, haviam estátuas de peixes com as bocas para cima. Estátuas em cinza, grandes, com manchas em vermelho. As estátuas, desformes, tinham o olhar morto – talvez mortas pelas manchas vermelhas. Também disformes eram as formas humanizadas que relutavam em se aproximar, escondidas atrás das estátuas.

Eram versões de si mesmo: perdidos, tortos, que não tinham mais onde se encaixar.

Anômalos, tais como ele.

Entretanto, antes que Damian pudesse se aproximar de seus irmãos, filhos do vermelho que se escondiam no cinza, tudo se partiu ao meio. O vermelho do céu encontrou o vermelho do mar que cortava o vermelho da terra.

Quase tudo era vermelho.

As criaturas humanas com capas longas, com sombras que se projetavam sob o vermelho, as criaturas usavam verde.

O verde veneno era perigoso.

O vermelho era de sangue.

O cinza não estava mais lá.

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NOTA

Não sou boa com pesadelos, normalmente os meus se consistem em sonhos absurdamente estranhos (como um em que o meu gato aprendeu a andar de bicicleta e foi atropelado por um jet-ski...). Logo, na incapacidade de descrever um bom pesadelo, fiz a interpretação mais louca que consegui do seguinte material:

Robin, o Filho do Batman (capítulo 2, página 6)

Robin, o Filho do Batman (capítulo 2, página 5 e capítulo 5, página 7)

Robin, o Filho do Batman (capítulo 6, páginas 21 e 7)

Robin, o Filho do Batman (capítulo 5, páginas 5 e 6)

Robin, o Filho do Batman (capítulo 5, páginas 13, 14 e 15)

Acho que deu pra notar o que eu estava lendo na ocasião, né?

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