1 - GAROTO ATÍPICO

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O barulho do escapamento um pouco mais alto que o normal da moto modelo estradeira chegando ao estacionamento do renomado colégio particular British Culture, ecoou chamando a atenção de alguns alunos próximo para o rapaz atípico que acabava de chegar.

Trajando uma calça jeans preta desbotada, uma jaqueta de couro e um All Star surrado nos pés, o rapaz tira o capacete, ajeita um pouco o topete de seus cabelos cortado estilo undercut e coloca seu Rayban modelo aviador, pega um caderno e dirige para a porta da escola despreocupado.

Mau sempre foi bem mais alto que os padrões normais para sua idade desde quando era criança, loiro de olhos bem azuis de corpo avantajado e andar meio desengonçado, não foi difícil de atrair os olhares dos demais assim que pisou no corredor.

Sentiu-se bem deslocado, pois estava fora dos padrões das classes sociais dos demais, Mau pertencia a classe média baixa, sempre estudou em escolas públicas e estava nesse colégio graças a uma bolsa de estudos integral que ganhou, depois de concorridas provas, que o próprio colégio lançou como "desafio" para darem a mais alunos a chance de formação numa distinta escola. Ele não esperava ter ido tão bem, para falar a verdade esperava sim, Mau tinha uma inteligência peculiar rara, conseguia memorizar facilmente qualquer tipo de informação, o que sempre abriu muitas oportunidades desde sempre. Apesar de fazer o estilo bad boy no fundo Mau era um gênio ... gênio indomável.

Não pôde deixar de ouvir cochichos e piadas vindo dos veteranos, detestava a arrogância que as pessoas da alta classe tinha, de longe ele estava usando as roupas e o tênis das marcas caras que todos lá ostentavam, se irritava com playboys e patricinhas fúteis sem objetivo de vida, não era essa a sua realidade em que cresceu, vendo os pais trabalharem muito para ter uma vida digna. E por isso mesmo resistiu tanto tempo frequentar ambientes assim, sempre preferiu a simplicidade.

Apesar de aparentar ser quieto, Mau era bem estourado quando provocado, o que já lhe causou algumas dores de cabeça e suspensões no passado, porém optou por não dar muita bola as provocações.

Ainda mais agora que não podia perder essa oportunidade, sabia que por mais que se esforçasse as escolas públicas não tinha capacidade o suficiente para fazê-lo ter uma boa indicação na faculdade que almejava e ter um bom futuro, algo que sempre sonhou.

Andava devagar pelos corredores em busca da sala do diretor para se apresentar, agora ele era o mais novo integrante da turma do 3°ano colegial.

— Entre!!! - Mau ouviu assim que bateu na porta do diretor.

A sala era toda decorada com madeira de tom carvalho, desde a grande mesa no centro quanto as estantes que iam do teto até o chão impregnados de livro. No canto esquerdo tinha uma janela enorme que dava para o pátio da escola onde alguns alunos estavam esperando o sinal tocar para entrarem em suas salas. Mais ao longe tinha uma grande árvore florida, a leve brisa balançava os galhos fazendo algumas pétalas rosas caírem, uma pessoa estava sentada embaixo dessa árvore lendo um livro. Essa imagem chamou a sua atenção, tudo era muito bonito, diferente das escolas que sempre conviveu, parecia quase com um quadro se não fosse o movimento do vento.

— Sr. Maurice Smith, prazer sou o diretor Paul Taylor!!! - um homem de estatura baixa, meio calvo com óculos grandes de lentes fortes, levanta de sua cadeira sorridente estendendo a sua mão para cumprimentar Mau, que retribuí tirando a sua atenção na paisagem da janela.

— O prazer é meu Sr. Taylor.

— Sente-se Sr. Smith, aceita um chá, água ou café?

Mau balança negativamente a cabeça agradecendo.

O diretor abre uma gaveta do arquivo no qual puxa um ficha que de longe Mau leu seu nome nela.

— Impressionante Sr. Smith, seu histórico escolar mostra que desde sempre suas notas sempre foram as melhores da sua turma, acima da média para uma escola pública, seu resultado para a prova de admissão aqui na British Culture foi a mais alta, você foi o único que conseguiu uma bolsa de 100%, um feito histórico, isso inclui o bônus de todo seu material didático. Nunca vi nada parecido nos meus 20 anos de gestão. Onde estava escondido esse "gênio"? - pergunta o diretor voltando a sentar na cadeira em sua mesa de frente para o aluno.

Mau se remexe na cadeira, nunca gostou muito de chamar atenção o que deixou bem desconfortável diante dessa pergunta.

— Sei lá, acho que por aí esperando uma chance.

— Me conte um pouco sobre sua família Sr. Smith.

Mau voltou a ficar desconfortável. - — Não tenho muito o que falar deles, meu pai é aposentado, trabalhava com metalúrgica, minha mãe é dona de casa e meu irmão mais velho terminou o colegial e trabalha com informática, está estudando para tentar entrar na faculdade de Engenharia ano que vem.

Nesse última parte Mau mentiu, talvez por receio de o diretor subjulgar, seus problemas familiares não devem acontecer na alta sociedade. Seu irmão Marcel engravidou a namorada e antes de terminar o colegial teve que largar tudo para arrumar emprego e sustentar sua nova família, por sorte ele encontrou o Seu Josh que tem uma pequena loja de informática e o ensinou a consertar equipamentos. Hoje Marcel trabalha durante o dia na loja e a noite, finais de semana e feriado, conserta micros, notes, impressoras e celulares na garagem em sua casa alugada no subúrbio de Bexley. Um dia seu irmão sonhou com uma faculdade de Engenharia da Informática, mas isso ficou num passado muito distante. Talvez seja esse um dos motivos que fez Mau tomar coragem e enfrentar esse desafio. Queria uma vida diferente para ele e ajudar sua família. Mau era assim, tinha um instinto protetor nato.

— E o que pensa em fazer com essa "chance" Sr. Smith?

— Me formar em Biologia com especialização em Biodiversidade Marinha. - Mau respondeu convicto sem hesitar.

O diretor Taylor processa essas informações vagarosamente, era uma profissão realmente interessante que nunca ouviu mencionada antes por ali, sempre ouviu como resposta, ser famoso, ser digital influencer, ter dinheiro não importa fazendo o que e na maioria das vezes ouvia dos alunos que não sabia, não tinha pensado nisso antes e quando se formar o pai deles decidem, quando não respondiam que nem precisa estudar pois um dia herdaria as fortunas da família...Taylor achava isso frustrante, então, anos trabalhando nessa área sabe reconhecer facilmente os méritos de todos seus alunos. Mau não tinha nada na sua família que o incentivasse a ser tão estudioso, como um pai professor, filósofo ou algo assim. Reconheceu em Mau um diamante bruto, não encontrou esse potencial em nenhum dos muitos alunos com melhores condições financeiras ali, realmente era um gênio. Ele apenas sorri para o mais novo aluno.

— Impressionante Sr. Smith...então seja muito bem vindo a British Culture.


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No Seu Mundo - entre Razão e a Emoção {parte I}Onde histórias criam vida. Descubra agora