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Dulce

No dia seguinte, encontrei com o padre na feirinha e ele avisou-me de que a minha penitência já havia sido o suficiente. Daniel deve ter mesmo conversado com ele como disse que iria.

Vê-lo novamente me abalou muito e eu percebi que não seria capaz de esquecê-lo por mais que continuasse a tentar. A minha vontade de estar com ele era maior do que qualquer mentira que ele tenha me contado. Talvez fosse tolice da minha parte, mas era inevitável sentir-me assim.

Depois de fechar a venda, eu comecei a voltar para casa no cair da noite. As lamparinas já estavam sendo acesas, algumas pessoas já fechavam suas portas para manterem-se aquecidas e os poucos que ainda estavam na rua, cobriam-se com suas capas de frio.

Passei em frente à casa de Ronald, onde o vi retirando um barril do seu carrinho de mão. Parecia ser um barril de cerveja.

— Boa noite, Ronald! — eu disse aproximando-me.

— Oi, Dulce, Boa noite! — sorriu de lado. — Estava indo para casa?

— Sim.

— Ainda está cedo, por que não fica um pouco aqui? Eu comprei um barril de cerveja. — deu dois tapinhas no barril.

— Por que comprou tanto? — eu ri de leve.

— Quero parar de ficar até tarde na rua. Então, não quer beber um pouco? Eu sei que você começou a apreciar uma doce cevada. — sorriu.

— Hum, que mal há? — dei de ombros.

— Ótimo! Pode entrar e fique à vontade. — eu assenti e fui em sua frente até a sua casa.

Ele carregou o barril sobre seus ombros e quando já estávamos lá dentro, o colocou no chão e pegou duas canecas. Depois de me entregar uma delas, ele abriu o barril e nos serviu.

— Não a vi mais na livraria. — ele disse. — Está tudo bem?

— Deve saber que eu e Daniel não estamos mais juntos. Eu não estou com muito ânimo para consumir novas histórias.

— Bem, se a sua história de amor não deu certo, você pode mergulhar nas que não existem. Ou... — ele chegou mais perto e me encarou. — Pode tentar escrever uma nova.

— Ron, não comece. — dei um bom gole em minha cerveja. — Não me envolverei com ninguém até ter certeza que Daniel não está mais em meus pensamentos.

— E o que você tem feito para esquecê-lo? — fiquei em silêncio e desviei o olhar. — Está tentando, não está?

— Não...

— Ainda acha que podem estar juntos?

— É uma coisa bem impossível. Ele vai se casar com outra mulher e por mais que ele me queira, não posso aceitar ser uma amante.

— Não pode, mas quer? — arqueou a sobrancelha.

— Mesmo se quisesse, isso seria o cúmulo da depravação!

— Acha que ele aceitaria que você fosse amante?

— Provavelmente não. Da última vez que nos vimos, ele se mostrou disposto a ficar bem longe de mim.

— Ele não a ama. Se a amasse, acabaria com o casamento e ficaria com você sem pensar duas vezes.

— Ronald, eu não sei o que se passa na vida particular do Daniel e casar-se com essa mulher parece ser algo importante por alguma razão. Eu senti todo o amor que ele tem por mim e tenho certeza que isso é real.

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