Christopher
A repentina melhora de meu pai foi apenas passageira. Após um dia de calmaria, ele voltou à sua tormenta anterior, com gritos ainda mais agudos do que antes. Os médicos já começavam a desistir, apenas seguindo o tratamento original, mesmo sabendo que ele não faria nenhuma diferença. Apenas uma ajuda divina seria capaz de salvar a vida dele.
Num domingo de manhã, o sol mal havia começado a nascer e eu fui chamado às pressas em meus aposentos. Corri pelos corredores do castelo em direção aos aposentos de meu pai e quando entrei, me deparei com o médico analisando a sua pulsação, com o rosto nada feliz.
— Alteza, sinto informar, mas nós perdemos o rei. — ele disse olhando para mim.
Eu fiquei estático, sem ter noção dos meus sentidos. O mundo parecia ter entrado em pausa e nada ao meu redor poderia ser ouvido, além de um zunido que se estendeu por longos segundos no interior dos meus ouvidos.
Os conselheiros, ao lado do corpo falecido de meu pai, lamentavam com palavras religiosas, desejando que a alma dele fosse bem recebida no reino de Deus.
Do lado de fora, ouviu-se um grito desesperado, sendo seguido de um choro exagerado, que parecia querer explodir a garganta da minha irmã. Certamente, as suas serviçais haviam acabado de lhe contar sobre o que aconteceu.
Não demorou até que minha irmã entrasse correndo, indo em direção até a cama, jogando-se sobre o nosso pai, derramando todas as lágrimas que podia, em gritos de agonia.
Ela levantou, correu até mim e começou a dar socos em meu peito, ainda chorando.
— Você não me deixou vê-lo! — gritou. — Eu não pude despedir-me do meu pai! — eu não dizia nada, nem emitia qualquer reação. — Eu te odeio! — ela continuou a bater-me, então eu segurei seus braços, a forçando a parar e a abracei, prendendo-a em meus braços.
Anahi continuou chorando compulsivamente, agora aceitando o meu abraço, enterrando seu rosto em meu peito.
Eu me mantive firme, talvez por ainda não estar conseguindo processar que eu o havia perdido e o que a sua morte iria fazer com o meu futuro e o futuro do reino.
Logo, padres e demais sacerdotes foram até o castelo realizar uma oração, afim de guiar o meu pai até o céu. Durante toda a cerimônia, que acontecia em seus aposentos, eu fiquei olhando fixamente para o corpo dele, pedindo em pensamento para que aquilo não fosse real, para que ele abrisse os olhos e dissesse que estava bem.
— Alteza? — Faustos aproximou-se de mim assim que saímos do quarto. — O bispo gostaria de saber se a cerimônia de falecimento será aberta ao povo.
— Não quero que a morte do meu pai vire um espetáculo. Ele será enterrado imediatamente, numa cerimônia apenas com a realeza e alguns serviçais.
— Como quiser, vossa alteza. — retirou-se logo depois de se curvar.
— Vossa alteza? — outro sacerdote abordou-me. — Gostaríamos de saber se a morte do rei deve ser anunciada pelo reino agora.
— Eu não sei, façam o que quiserem. — passei a mão por meus cabelos, impaciente.
— Mas vossa alteza agora é a autoridade máxima aqui, deve tomar as mais importantes decisões. — era isso que eu temia, eu não estava pronto para essa liderança.
— Então, anunciem. — dei de ombros. Ele se curvou e saiu para longe de mim.
Antes que mais alguém me parasse para pedir mais alguma informação, eu fui às pressas até o haras. Queria pegar o meu cavalo e sair dali. Aquele clima não estava me fazendo bem e eu queria lidar com a minha dor sozinho e sem interrupções.
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Seráfia
Fanficㅤㅤ❛ 𝐒𝐄𝐑𝐀𝐅𝐈𝐀 ❪ 👑 ❫ + 𝟭𝟲 ₊ sejam bem vindos / 2020! 📍Seráfia (reino fictício) ー Nos primórdios da idade média, um amor proibido começa a surgir. Ele, um príncipe, herdeiro do trono. Ela, uma plebéia simples que vive sozinha com sua mãe de...