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Dulce

E chegara o dia do meu julgamento que seria realizado em praça pública. No mesmo local onde as bruxas eram queimadas diante de todo o reino. Eu mal consegui fechar os olhos na noite anterior e não sabia ao certo se deveria mesmo ter esperanças de que me sairia dessa.

Eles acorrentaram meus braços e eu fui levada até o local do julgamento. Estava cheio de pessoas, rostos conhecidos que antes sempre sorriam para mim, mas agora me olhavam como se eu fosse uma aberração. Mantive minha cabeça baixa por todo o percurso até ser posta no centro daquela multidão, onde todos poderiam olhar bem para mim.

Christopher e Eliza estavam em seus tronos. Ela me olhava com um sorriso satisfeito no rosto, uma alegria que podia ser sentida de longe. Já ele, carregava uma preocupação em sua face, encarando-me constantemente.

O padre iniciou o julgamento relatando que encontraram o livro de bruxaria em minha casa e que eu teria usado feitiços para conquistar o rei, o tornando totalmente à mercê dos meus caprichos. A cada palavra mentirosa, uma lágrima descia por meu rosto.

— Deixem que ela se defenda! — Christopher gritou e todos olharam para ele. O padre não parecia disposto a acatar esse pedido.

— É, deixem que ela fale. — a rainha riu.

— Muito bem. O que tem a dizer? — o padre me perguntou.

— Aquele livro foi colocado em minha casa. Nem eu e nem a minha mãe tínhamos conhecimento dele. Nenhuma de nós é bruxa. — falei com a voz embargada.

— E quem o colocou lá? — ele perguntou.

— Ronald. — um murmurinho se iniciou. Todos cochichavam nos ouvidos uns dos outros agora.

— Muito bem! Ronald, o vendedor de lenha, apresente-se! — o padre o chamou e ele surgiu diante de todos, com seu olhar fixo em mim. — O que tem a dizer sobre essas acusações?

— Não sei do que ela está falando. Além disso, padre, Dulce tem tido falas preocupantes nos últimos dias. — neguei com a cabeça implorando com os olhos para que não dissesse nada contra mim. — Tem sido muito herege, eu diria.

— Pode dar um exemplo? — o padre pediu.

— Ela disse que não tem mais a mesma visão de Deus e que talvez a igreja não esteja totalmente certa.

— Confirma essa informação? — o padre me perguntou.

— Eu... — um choro mais forte se prendeu em minha garganta. — Não posso mentir. Sim, eu vejo Deus de uma forma diferente, mas não de uma forma ruim.

— Acha que a santa igreja está errada? — quando ele levantou essa questão, todos que assistiam me olharam com fúria.

— Bom, eu acho! — Christopher ficou de pé. — Está errada em muitos pontos!

— Isso só prova que vossa majestade está sob o efeito de um forte feitiço. — Christopher fechou os olhos e colocou as mãos sobre a cabeça.

O julgamento se seguiu e o testemunho de meus amigos e de minha mãe, apesar de sinceros, foram tratados como fruto de feitiço. Para eles, todos que me defendiam estavam sendo coagidos por bruxaria, mas qualquer um que pudesse me difamar falava a verdade. Pois é, a rainha havia deixado bem claro que nada poderia ser feito para me salvar.

Todos os sacerdotes da igreja reuniram-se para tomar a cruel decisão sobre a minha vida. Eu chorava soluçando enquanto centenas de olhares raivosos pairavam sobre mim. Aquelas pessoas queriam me ver morta por algo que eu não era, algo que não fiz.

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