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Dulce

Tiramos o domingo para limpar a loja. Enquanto eu varria o chão, Angelique dobrava alguns tecidos e minha mãe lavava outros nos fundos.

Na rua, começamos a ouvir alguém gritar, parecia ser um dos anúncios reais. Eu e Angelique fomos até a porta da loja e observamos um dos anunciantes num cavalo, enquanto gritava.

— A corte de Seráfia anuncia tristemente que esta manhã, perdemos vossa majestade, o rei Victor. O seu enterro já aconteceu com a presença apenas de seus filhos, seus serviçais e sacerdotes da igreja. A lápide do rei será posta amanhã, sem direito à visitação até segunda ordem!

— Teremos um novo rei, eu sempre quis assistir uma coroação! — Angelique deu um pulinho de alegria.

— Meu Deus, mulher! O rei acabou de falecer! — a repreendi.

— Eu sei, mas devo lamentar? Não era um familiar meu. — deu de ombros. Eu neguei com a cabeça e revirei os olhos.

— O pai do Daniel também morreu hoje. — eu franzi a testa. — Curioso.

— O pai do Daniel morreu? — Angelique arqueou as sobrancelhas. — Que coisa horrível, ele deve estar péssimo!

— Sim, ele está. — lamentei. — Agora que o rei faleceu,eu imagino que as coisas no castelo virem uma correria. Talvez ele fique alguns dias sem me ver. — suspirei com desânimo.

— Por que você não costura uma capa para ele? Aposto que ele ficaria bem animado se o presenteasse.

— É uma ótima ideia! Vou separar o melhor tecido que tivermos!

Passei dois dias dedicando-me a criar a melhor capa que eu pudesse. Não tinha tanto jeito com a costura quanto a minha mãe, na verdade, eu ainda estava aprendendo. Mas concentrei-me tanto que a capa até parecia ter sido feita por um alfaiate.

Escolhi um tecido aveludado na cor vermelha escura e em amarelo, eu bordei o brasão do reino no lado esquerdo do peito. Esperava que ele gostasse daquilo e que esse presente lhe trouxesse um pouco de alegria após os eventos ruins.

Eu não o vi durante aqueles dias, mas ele sempre mandava recados por Maitê, dizendo que estava bem e que não via a hora de encontrar-se comigo novamente.

Numa tarde um pouco gélida, a clientela na venda não estava indo muito bem e nós passamos o dia apenas conversando.

— Eu odeio dias frios. — Angelique disse. — Daria tudo para estar de frente à uma lareira agora. — fechou os olhos e suspirou.

— Se você imaginar que está de frente à uma, vai poder sentir o calor. — falei.

Nós duas fechamos os olhos e eu imaginei uma chama alaranjada acender-se diante dos meus olhos. Era uma pena que nós tivéssemos que trabalhar mesmo em dias como aquele. A vida não era fácil e tirar um dia para descansar não era uma opção.

Tornamos a abrir nossos olhos quando ouvimos o barulho de um cavalo em frente. Era o Edgar, que entrou com um sorriso no rosto.

— Boa tarde, damas! — ele disse.

— Boa tarde! — nós duas respondemos em uníssono.

— Dulce, você pode vir comigo? O Daniel quer muito vê-la, mas não pode vir até a aldeia.

— Bem, é que eu ainda estou trabalhando. — eu disse sem jeito.

— Vai lá, Dulce. Não tem muitos clientes hoje e você precisa mesmo ver ele. Aproveita e leva a capa que costurou. — Angelique disse.

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