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Dulce

Aquele foi o meu primeiro contato com a nobreza sem fins comerciais. Daniel era o primeiro guarda real que falava comigo sem ser em tom de superioridade. E se eu não me colocasse em meu devido lugar, poderia jurar que ele me cortejou.

Comecei a ajudar a minha mãe a preparar as tortas de maçã e enquanto mexia na massa, não parava de pensar em Daniel e na forma gentil com a qual me tratou. Não sei ao certo o que era, mas ele tinha algo diferente em si, algo especial. Me transmitiu uma boa energia.

— Querida? — minha mãe me chamou.

— Sim?

— No que está pensando? Parece que o seu pensamento está longe.

— Nada demais... apenas tentando imaginar o que está acontecendo no baile agora.

— Por que não para de sonhar com o castelo? — pousou a mão em meu rosto. — Aquelas pessoas estão muito longe da nossa realidade. — eu assenti e voltei ao que estava fazendo.

Nós assamos as tortas e a lenha faltou. Tive que ir comprar mais e sabia que mesmo já estando de noite, Ronald não se recusaria a me atender.

Vesti uma capa de frio, peguei o lampião e saí pela aldeia até chegar à cada dele. Bati duas vezes na porta, que foi aberta bem depressa.

— Dulce! Que maravilhoso é te ver! — ele disse, com um grande sorriso.

— Eu preciso de um pouco de lenha, se não for te incomodar.

— Você nunca incomoda. Vamos, queira entrar. — ele deu espaço e eu entrei em sua casa. — Está com sorte, eu fui hoje cedo até o bosque coletar madeira fresca. Essas vão queimar bem rápido! — ele pegou seu carrinho de mão e me olhou. — De quanto precisa?

— Seis toras.

— Ok! — as empilhou no carrinho. — Eu a acompanho até em casa. — eu assenti e nós saímos para a rua. — A capa que está usando é nova?

— Sim, minha mãe a terminou a poucos dias. É a primeira vez que estou usando.

— Com todo o respeito, está mais linda do que nunca.

— Obrigada. — eu sorri de lado. Seria um longo caminho de cortejos por parte de Ronald.

— Amanhã tomarei conta da livraria, deixo você pegar quantos livros quiser.

— Isso seria muito gentil. — os livros não tinham preços muito acessíveis, então quando Ronald cuidava de lá, sempre me deixava pegar livros para devolver depois.

— Você sabe que eu faço qualquer coisa pra que seja sempre feliz. — dei graças a Deus quando chegamos até minha casa.

— Obrigada, Ronald! — abri o saquinho de moedas preso em minha cintura e peguei algumas.

— Não, é por minha conta. — ele disse.

— Tem que parar de me dar madeira de graça, desse jeito irá falir!

— Besteira. Eu abasteço a aldeia inteira, sustento apenas a mim e ainda ganho bem cuidando da livraria. O seu dinheiro não vai me fazer falta.

— Não pode me tratar de forma especial só porque gosta de mim.

— Eu não gosto de você, eu sou apaixonado por você.

— Ronald... — cocei a nuca.

— Eu sei, não precisa repetir a história do "somos amigos desde a infância", isso não vai mudar nada. — eu fiquei em silêncio. Ele deixou as toras perto da porta de entrada. — Tenha uma boa noite, Dulce. — sorriu.

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