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Christopher

Durante o caminho até o rio, Dulce me contou como estava lidando com a sua mãe. Dona Blanca andava com muita febre e dores corporais e nenhum médico da aldeia conseguiu dizer o que ela tinha. Dulce estava fazendo o possível para manter o conforto de sua mãe.

— O médico real é excelente, o melhor do reino. Eu tenho certeza que ele saberá o que fazer. — eu disse ao chegarmos às margens do rio.

— Eu nem sei como agradecer. — ela disse depois de sentar-se sobre a grama ao meu lado.

— Você poderia me perdoar. — ela me olhou de relance. — Não estou dizendo para que volte a ficar comigo, eu entendo que isso não possa ser possível. Só quero que me perdoe pelo mal que lhe causei.

— Bem, eu não quero guardar sentimentos ruins por ninguém. Acho que está realmente arrependido, então sim, eu o perdoo. — sorriu sutilmente.

— Isso me deixa muito aliviado. — eu sorri também.

— Er... — ela desviou o olhar para o rio. — Maitê me disse que você trancou a rainha.

— Quero evitar que Eliza manipule nossos serviçais para satisfazerem os caprichos maléficos dela.

— Fez isso por causa do que ela fez a mim? — perguntou com curiosidade.

— Sim, eu não quero que ela te machuque ou machuque qualquer outra pessoa. Desde que a conheci, notei que havia algo de obscuro nela. É uma mulher que desconhece a palavra empatia e até sente-se satisfeita com o sofrimento humano. Não gosto nenhum pouco dela. — Dulce assentiu, com um sorriso tímido querendo se fazer presente.

— Ela disse que não era para nos vermos mais.

— Não se preocupe, ela não pode fazer nada. Mesmo que saiba que estivemos juntos, não pode mandar ninguém fazer nada, eu tirei toda a autoridade dela.

— Deve ser muito bom poder fazer o que quiser. Você não tem nenhum medo, nenhuma preocupação. As coisas sempre vão girar no seu ritmo.

— Está enganada, Dulce. Eu tenho muita liberdade, isso é um fato, mas também tenho deveres. Há certas coisas que um rei não pode se dar ao luxo de fazer.

— Como o que?

— Casar-nos com quem amamos. — a encarei.

— Ainda me ama?

— Mais do que posso mensurar. — vi seu rosto ficar corado. — Achei que não quisesse que eu dissesse que a amo.

— É que a parte de mim que é irracional sempre enxerga um jeito de estar com você. Eu não queria dar mais esperanças à essa parte.

— A parte de mim que é irracional queria muito dizer que você está tão linda quanto da última vez em que te vi. — Dulce abriu levemente os lábios e olhou-me com atenção. — E ela também queria dizer que te ama profundamente e que por mais que eu tente negar, esse sentimento é inesgotável.

Dulce deslizou sua mão na grama até tocar a minha e eu, vagarosamente, segurei sua mão macia dentro da minha, correndo meus dedos pelos seus, compartilhando nossas energias de modo a me deixar com um sentimento de paz invadindo o meu peito.

— Nunca cogitou ter um casamento de verdade com a sua esposa? — perguntou.

— Nunca. Nada em Eliza é capaz de me atrair. Nosso casamento é apenas um acordo, uma espécie de simbologia para que o reino de Atenas nos fortaleça. Não é real.

— Se não é de verdade... — ela correu seus dedos por meu braço. — Você não deve nada a ela.

— Dulce... — a olhei de relance. — No que está pensando?

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