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Christopher

Finalmente marcamos a data do casamento e após tudo estar decidido, eu me recolhi em meus aposentos por dias, sem aceitar nenhuma visita, recebendo minhas refeições em seus devidos horários e deixando todo o trabalho real nas mãos de minha irmã.

A ideia de ter que ver a luz do sol, tomar decisões sobre o reino ou mesmo ouvir a voz de qualquer outra pessoa, não me agradava. Eu só queria ficar em minha cama e esquecer que o mundo exterior continuava a existir.

Para conter toda a minha dor, eu passei a me queimar com a cera quente que pingava das velas do meu quarto. Aquela dor parecia ser uma espécie de alívio para a minha alma. Mas mesmo assim, eu ainda não havia conseguido parar de chorar.

Eu chorava tanto que comecei a ter graves dores de cabeça que eram tratadas por chás de ervas preparados por Maitê. Ela, Anahi e Edgar eram os únicos que eu deixava entrar em meus aposentos.

— A sua noiva está louca querendo saber o que está acontecendo com você. — Maitê disse após me trazer mais um pouco de chá.

— Ela é a última pessoa que eu quero ver agora.

— Christopher, você precisa seguir em frente. Eu sei que deve estar doendo, mas ficar preso aqui sem ver ninguém não vai ajudá-lo a superar.

— E quem disse que eu quero superar? Eu não mereço superação, mereço sofrimento! — afirmei. — Eu odeio quem eu sou e tudo o que eu fiz.

— E por que não tenta ser alguém melhor?

— Eu estou longe da Dulce, não estou? Ficar longe dela é ser alguém melhor. — ouvimos o badalar do sino da igreja, anunciando o fim de mais uma missa de domingo.

— Vai acontecer de novo... — Maitê disse com o olhar distante e melancólico.

— O que vai acontecer de novo? — perguntei.

— Eu não deveria estar te contando isso, mas acho que precisa saber. O Edgar preferiu não dizer isso a você para que não vá atrás dela, mas sinceramente, talvez se você fizer algo, isso acabe.

— Do que está falando? — franzi a testa.

— Ao final de todas as missas de domingo, a Dulce paga uma penitência na igreja. Ela ajoelha-se no chão na entrada e de joelhos, caminha até o altar. Você precisa ver o quanto eles estão machucados por conta disso, é de dar dó!

— Por que ela está pagando essa penitência?

— Ela não contou a ninguém, mas eu sei que provavelmente ela contou ao padre que não era mais virgem e ele a mandou fazer isso para "pagar por seus pecados". — revirou os olhos. — Odeio esses métodos cruéis!

— Ela não pode continuar se machucando! — fiquei de pé. — Eu vou até lá e vou fazê-la parar!

— Tudo bem, mas tome cuidado, não diga nada que a faça ficar pior. Lembre-se que vocês não estão mais juntos e que precisa afastar-se dela!

— Eu sei, Maitê, não se preocupe.

Saí do meu quarto sendo acompanhado por Maitê e corri até os estábulos antes que Faustus ou qualquer outro conselheiro me visse. Se eles vissem que eu saí dos meus aposentos, achariam que eu estava disposto a trabalhar.

Montei em meu cavalo e fui o mais depressa que pude até a igreja. Eu estava preocupado com a integridade física da Dulce e pensar que ela estava machucando-se daquela forma só porque dormiu comigo me doía. Eu precisava impedir essa barbaridade.

Entrei na igreja pela lateral e de frente ao altar, eu a vi rastejando-se de joelhos, com seu rosto numa expressão quase prazerosa. Por que diabos ela sentiria prazer naquilo? Era uma tortura!

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