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Christopher

Tudo era muito branco, como um mar de nuvens imenso e puro, sem nenhum rastro de que alguém havia passado por ali. Era um lugar estranhamente confortável e irreconhecível. Um lugar onde eu nunca havia estado e sobre o qual eu teria muitas perguntas a fazer.

Comecei a vagar por ali, sem mesmo sentir os meus pés tocarem o chão, apesar de ter certeza de que eu estava a caminhar. Tudo o que eu queria era ver algum rosto, mesmo que não fosse um rosto conhecido.

E no meio desse véu de nuvens brancas, eu avistei uma silhueta familiar. Estreitei meus olhos, afastando a luminosidade e quando a pessoa aproximou-se, não pude acreditar no que estava vendo.

— Não era para você estar aqui, não agora. — ela disse com a mesma voz calmante que eu me lembrava que ela tinha.

— Mãe? — fiquei boquiaberto.

— Não é o momento para você, meu querido. — sorriu de lado.

— Eu... eu morri?

— Não, mas você vai se não lutar. Sabe que não pode deixar a sua vida nesse momento. O povo de Seráfia precisa de você, Dulce precisa de você e há alguém aqui esperando para estar ao lado de vocês.

— Quem? — de trás da minha mãe, um menino apareceu timidamente. Ele tinha olhos castanhos e profundos como os da Dulce e os cabelos eram loiros e encaracolados como os meus.

— Precisa voltar, meu filho. — minha mãe estendeu sua mão e tocou o meu ombro. — Seu legado mal começou.

Além de minha mãe e do menino, outras pessoas começaram a aparecer. Rostos que eu reconheci das pinturas no castelo. Eram os meus ancestrais, aqueles que reinaram em Seráfia antes de mim e entre eles, eu vi o meu pai, olhando-me serenamente.

Eu tinha muitas perguntas, queria entender o que estava acontecendo comigo, se aquilo era um sonho ou se era mesmo real.

Aos poucos, tudo foi ficando escuro, todas as imagens foram se afastando até que eu não visse mais nada. E foi como se o meu corpo tivesse sido deslocado para outro lugar, uma cama, mais precisamente.

Abri meus olhos devagar e mirei o teto de meus aposentos. Tudo estava silencioso e eu deduzi que havíamos vencido a guerra. Tentei sentar, mas senti uma forte fisgada em minha barriga. Levei minha mão até o corte que havia recebido durante a batalha e devagar, eu consegui levantar.

Caminhei com cuidado até a minha varanda e observei meus guardas sendo treinados no campo lá fora. Tudo parecia normal e calmo, como se nunca tivéssemos que nos preocupar com ataques.

— Ai, meu Deus! — ouvi Dulce gritar atrás de mim. Virei-me para observá-la, parada na porta de entrada. — Você acordou!

Ela correu até mim e me abraçou. Eu envolvi um de meus braços nela, mantendo o outro sobre o meu machucado. Eu estava feliz por ela estar bem e sem nenhum arranhão.

— Quanto tempo eu fiquei desacordado? — perguntei.

— Dois dias.

— O que? — espantei-me.

— Vem cá, não é bom ficar se esforçando dessa forma. — ela me guiou de volta à cama para que eu me sentasse. — O médico não sabia dizer se você iria acordar. — ela sorria com seus olhos cheios de lágrimas.

— Por um momento, eu achei que estava morto.

— Como assim? — franziu a testa.

— Eu vi a minha mãe, o meu pai e outros reis já falecidos. Era um lugar muito calmo e branco. E também tinha uma criança.

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