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Dulce

Magnólia não falou muito durante o caminho. No geral, ela apenas perguntou se eu estava com sede, fome, sono ou se me sentia confortável. Eu não queria enche-la de perguntas agora, apesar de estar muito curiosa sobre esse acampamento de bruxas para o qual estávamos indo.

A viagem foi longa e nós ficamos na estrada até o sol nascer. Eu tirei um cochilo na parte de trás da carroça, mas Magnólia não pregou os olhos e ficava constantemente olhando para os lados enquanto apoiava sua mão na cintura, onde ela trazia uma espada.

— Você sempre anda atenta assim? — foi a minha primeira pergunta.

— São anos me escondendo da igreja. E agora, digamos que eu esteja protegendo uma bruxa com um crime bem grave. Certamente é bem mais perigoso estar com você.

— Não sou bruxa.

— Eu sei. — sorriu de lado. — Culpemos o rei por tê-la seduzido e causado tudo isso.

— Ele não é culpado de nada. — franzi a testa.

— Desculpe, não quero ofendê-la, mas não gostamos muito da realeza. Estão sempre fazendo o possível para se colocar à frente de tudo e todos. Não se importam com os súditos, se importam com o poder.

— O Christopher não é assim.

— Não? Soube que ele não se importa de começar uma guerra e arriscar a vida de todo o povo de Seráfia só para vingar-se da rainha. Christopher não é diferente de nenhum outro rei egoísta e cruel. — quando abri a boca para protestar, a carroça parou. — Chegamos!

Nós descemos e eu me vi diante de um acampamento bem movimentado. Ficava no centro de uma clareira, tinham várias tendas e muitas mulheres caminhavam de um lado para o outro, cada uma trabalhando em algo diferente.

Algumas cozinhavam nas fogueiras, outras pareciam costurar, outras cortavam lenha e as demais, andavam pelos arredores carregando espadas ou flechas, como se estivessem protegendo o lugar.

E o que mais me chamou atenção foram as vestes de todas elas. Estavam de calças e não vestidos. Calçavam botas de couro e não usavam o desconfortável espartilho que era moda entre as damas de Seráfia.

— Por que você não está de calças? — perguntei para a Magnólia.

— Eu tive que ir até o reino, então precisava me misturar. Agora que estou aqui, posso usar algo mais confortável do que esse longo vestido. — sorriu. — E a sua primeira tarefa será me ajudar a descarregar as coisas que comprei em Seráfia e o baú de armamentos que ganhamos do rei.

Começamos a tirar as coisas da carroça. Sacos de comida, tecidos, utensílios domésticos, para higiene e alguns saquinhos com ervas diferenciadas.

— Por que foi acusada de bruxaria? — perguntei quando começamos a levar as coisas para uma das tendas.

— No reino onde nasci, a ideia de uma mulher saber usar ervas para o tratamento de enfermidades não agrada muito a igreja. Achavam que eu fazia poções malignas, mas são apenas chás. Continuo fazendo isso aqui e sempre que uma das garotas sente-se mal ou machuca-se, elas vêm até mim ou qualquer uma das outras curandeiras.

— Que legal! E ao mesmo tempo, que triste que a igreja de seu reino reprove isso. Eu sempre achei totalmente válido que as pessoas buscassem conhecimento e que o usassem para o bem.

— Nem todos pensam assim, Dulce.

Depois que retiramos o baú de armas da carroça, outras mulheres nos ajudaram a carregá-lo até a maior tenda que havia ali. Fomos nos apresentando e eu, com muita curiosidade, perguntei para todas o porquê de terem sido acusadas.

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