Costelas e Batatas

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      Mrs. Thomas havia me liberado mais cedo do meu turno para que eu pudesse me preparar para o passeio com Tom. Eu não sabia o que vestir, o que fazer. Nunca fiquei tão perdida dentro daquele cubículo que eu chamava de casa como hoje. Acabei nem almoçando, só de emoção. 

      Quando desci, percebi que meu tricô oversized vermelho vivo com jeans preto e coturno nunca chegaria aos pés da calça caqui simples e a camisa azul marinho de algodão com as mangas dobradas perto dos cotovelos de Tom.
Claro que ele não dava a mínima pra esse passeio. Logo me senti mal por ele. 

— Uau! As brasileiras sabem definitivamente se vestir bem. — Comentou ele assim que me viu no hall de entrada do prédio. Ele estava bem casual, com o cachorro ao lado. 

— Não sabia o que vestir. Contanto que esteja aquecida, já me dou por satisfeita. Você não sente frio? — Cometi o terrível erro de conferir isso analisando atentamente o bico do peito dele, muito bem marcado na camisa. 

      Ele pigarreou e cruzou os braços   instintivamente. Me senti mais vermelha que meu tricô. Ele só sorriu, negou em seguida e iniciamos nossa caminhada. 

— Então, o Brasil não parecia tão quente quando fui lá. De onde você é, porque a vejo ainda sofrer com o frio — Ele sondou com genuína curiosidade. 

— Venho de uma ilha, no litoral, a nordeste do país. Lá é muito quente. Estou acostumada a shorts, sandálias e roupas sem mangas. — Enfim desabafei. 

— E o que veio fazer em Londres? Me desculpe perguntar à queima roupa. Mas você é bem diferente dos outros intercambistas  — Ele questionou novamente. 

— Eu tenho um terceiro olho ou algo do tipo? — Agora eu é que estava curiosa. 

— Seu jeito. Apesar de já ter conhecido intercambistas até mais velhos, você tem certo resguardo. E brasileiros não consumam ser assim — Ele esclareceu e estava mais do que certo. Eu era estranha mesmo e tinha meus motivos.

— Sou professora, gosto de trabalhar com pesquisa e comunicação. Mas no Brasil, nossa classe é muito desvalorizada. Então, acabo ganhando mais como atendente de café aqui do que como graduada na minha área — Lhe disse sem rodeios. 

— Mas pretende ficar? — Insistiu. 

— Se eu pudesse escolher, claro que sim. 

      Continuamos caminhando com Koul ainda preso à guia. À medida que avançávamos, o burburinho de pessoas e música se tornava mais alto. 

— Onde está me levando? — Eu quis saber. 

— À Trafalgar Square, você vai gostar. Desculpe pela escolha não ser um passeio emocionante. Não tive com quem deixar Koul. — ele parecia envergonhado. 

— Nunca tenha vergonha do seu cachorro. Em casa, tenho dois cachorros e quatro gatas. Todos resgatados da rua. Eu amo animais! — lhe garanti com certo entusiasmo. 

      Pela primeira vez, ele me olhou com admiração. 

      Já era quase noite e, além do frio, rodamos a praça inteira. Tom tirou várias fotos minhas. Koul saiu em algumas. Claro que eu tinha que garantir algumas para o Instagram. Não pedi para tirar nenhuma com ele. Vou deixá-lo livre e confortável para fazê-lo quando sentir vontade. 

      Mais tarde, só me dei conta que     minha tremedeira não era frio quando ouvimos um ronco selvagem vindo da minha barriga. Eu nem havia almoçado. 

      Ok. Eu estava condenada a passar vergonha na frente desse homem. 

— Já chega. Vem, vamos dar a vocês algo para comer. O que você prefere? — Ele me questionou e eu não soube o que responder. 

— Quero comer o que você geralmente come. Onde você vai, quando quer comer algo londrino e gostoso?— Devolvi a pergunta. 

— Você gosta de costela e batatas? 

—Não faça perguntas difíceis! — Respondi já passando a língua nos lábios. 

      Duas horas depois, caminhávamos os dois de volta para casa, enquanto víamos Koul cheirar cada poste. 

— Muito obrigada por hoje, Mr. White. 

— Só Tom. 

— Muito obrigada por hoje, só Tom. 

      Rimos juntos da minha resposta besta. Será que é agora que ele me pede em casamento? E se eu acordar no Brasil e isso tudo tiver sido um sonho? 

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Ihhh, essa amizade ainda vai render.

Mr. White, Mr. Right Onde histórias criam vida. Descubra agora