Estrangulada

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      Tom me ensinava o que eu havia esquecido. 

— Prenda seu oponente assim — E segurou pela minha gola, simulando um estrangulamento. 

— Entendi — Disse eu, rolando novamente com ele. Que me deixou imobilizá-lo outra vez. 

— Seria bom trabalhar sua força nesse golpe. Eu poderia subjugá-la se quisesse e você precisa saber se defender — Ele falou enquanto eu tentava fechar sua gola em um estrangulamento. 

      Fui perdendo as forças à medida que aqueles olhos azuis se aproximavam. Havia um pouco de castanho no olho esquerdo. Foi então que aconteceu. 

      Tom removeu com delicadeza minhas mãos de seu kimono e as prendeu no chão. Não havia fogo, só entrega no beijo. 

— Seu sensei também ensinou estrangulamento com um beijo? — Perguntei. Minha voz estava meio rouca. 

— Não. Essa é uma técnica que desenvolvi para você, somente — Ele disse. 

— Nem posso imaginar o que preparou para outras — O fitei.

— Quero tentar algo com você, Alana. Gosto de você, mas tenho medo de colocá-la em uma situação difícil.

      Era isso mesmo? Tom White gostava de mim? Pro inferno com esse intercâmbio, eu aceito! Eu estava louca e sabia disso. 

— Eu aceito os riscos — Respondi com toda certeza. 

— Mesmo se eu fizer isso? — Ele me imobilizou em um triângulo invertido. 

— Não tenha dúvidas — Disse eu aceitando o desafio. 

— Tente sair — Ele encorajou-me. 

      Eu tentava sair e o aperto de Tom não estava forte, só que eu me recusava a desistir. Quanto mais me esforçava, mais perdia oxigênio e fui apagando sem perceber. 

— Alana? Alana, responda, consegue me ouvir? — Comecei a ouvir a voz de Tom, mas não entendia nada e não encontrava minha própria voz. Meu corpo parecia dormente. 

— Levante os pés dela — Ouvi outra pessoa dizer. 

      Algo forte estava perto do meu nariz. 

— Ahhh, quem me bateu? — Consegui finalmente falar, sentindo minha bochecha queimar. 

      O tatame antes vazio, agora estava cheio. O dono da academia estava lá, assim como Frank, Rob e Karen, que entrava com uma garrafa de água. 

— Tome, querida. Como se sente? — Ela parecia meio aflita. 

— Santo deus, que vergonha! Estou bem — Disse eu aceitando a água. 

      Passados alguns minutos, saímos da academia e Tom havia me repreendido por não ter batido*. 

— Me perdoe, está bem? Prometo bater na próxima. Por favor, Tom. Não se culpe, nem eu mesma percebi que estava apagando — Falei tentando apaziguar seu ânimo. 

— Só me prometa que não me deixará machucá-la outra vez. 

— Prometo. 

      Peguei sua mão e fizemos promessa de dedinho. 

      O puxei para um canto antes de entrarmos no carro. 

— O que faremos... Sua equipe... — Perguntei roendo uma unha. 

      Ele tirou delicadamente minha mão da boca e entrelaçou nossos dedos — Não se preocupe, eles serão um escudo, principalmente para você. 

      Me sentia sem jeito da mesma forma. 

— Tem certeza que se sente bem? — Karen perguntou. Era ótimo ter uma companhia feminina no meio disso tudo. 

— Não foi grande coisa, Karen. Estou inteira — A tranquilizei. E queria encerrar esse assunto para não deixar Tom se sentir mal — Não passou de uma revanche, Tom estava apanhando — Menti de leve e todos riram. 

— Ah, não duvidamos disso — Retrucou Frank do volante. 

Rob decidiu que era dia de sair. 

— Vamos ao Builder's Arm's hoje? Para comemorar a chegada de Alana na equipe — Sugeriu. 

— The builder's o que? — Perguntei, já com medo de ser um clube adulto. 

— É. The builder's arm's, é o bar favorito de Tom — Karen respondeu enquanto digitava em seu celular. 

— Acho que vamos precisar de um banho antes — Tom retrucou. E eu concordava, estávamos imundos. 

— Tô dentro, eu amo um menage! — Frank falou animadíssimo e eu não aguentei, quase cuspi a água que havia acabado de beber em Rob, que ia na frente. 

— Deixaremos você em casa e voltaremos para buscá-la, tudo bem, Alana? — Karen já devia estar acostumada com as namoradas de Tom e imaginou que eu não tinha nenhuma roupa na casa dele. Ainda. 

— Claro que sim. 

— Fico maravilhado em como as mulheres se entendem bem e se resolvem sem nos consultar — Tom falou, meio contente e meio chateado. 

O carro estacionou e eu desci. 

— Te vejo mais tarde — Tom piscou e eu não soube mais o que fazer. Só acenei e entrei. 

*Bater: ato de bater duas ou três vezes seguidas no oponente ou no tatame para indicar desistência diante de um estrangulamento ou torção/quebra de membro.

Mr. White, Mr. Right Onde histórias criam vida. Descubra agora