Macarrão com Camarão

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      Nunca pensei que estaria dividindo um cubículo com Tom White. Subi cada degrau nervosa, ciente de que ele poderia estar avaliando meu traseiro brasileiro, que não passava de propaganda enganosa. Não sou nenhuma beldade bronzeada e curvilínea que aparece na cabeça quando se pensa em beleza brasileira. 

— Entre. Desculpe não dispor de mais espaço, você pode se sentir meio claustrofóbico aqui — Avisei assim que passamos pela porta da frente. 

      Meu kitnet era realmente minúsculo. Eu dispunha de uma pequena sala, um quarto com banheiro e cozinha.
E com esse homem de 1,85, largo como uma geladeira frost free é que não sobrou muito espaço. 

— Eu que deveria me desculpar por invadir sua privacidade assim, abruptamente — Ele olhava tudo em volta sem cerimônia alguma. 

—Disponha. 

— Você tem TOC? — Ele perguntou com as sobrancelhas erguidas. 

— Talvez um pouco. Por quê? 

— Vejo certo padrão na sua organização. Poderia passar uns dias na minha casa — Disse ele em tom de brincadeira. 

— Você é bagunceiro? 

— Sou normal. 

— Eu não diria isso. Você está longe de ser alguém normal. 

— Então você sabe quem eu sou? 

— Quem não sabe? — Decidi abrir o jogo. 

— Então por que foi sempre tão contida comigo? Estou acostumado com fãs mais entusiasmados. Espera... Você não é uma fã? — Ele fez um ar de afetado, já sorrindo em seguida. 

— Sim, sou. Ou era... Já não sei mais. Te deixei um monte de mensagens no direct do Instagram, mas você nunca nem visualizou. Não sei como conseguiu apagar. Mas eu era mais tola naquela época — Dei de ombros.

— Ah, isso. Bem, tem uma agência que gerencia minhas redes. Eu só faço alguns dos conteúdos. 

— Deixa pra lá. Quer comer alguma coisa? 

— Você cozinha? 

— Eu como. Se eu tenho que comer, preciso saber cozinhar.

— Ouch! — Ele entrou no papel de alguém muito ferido. 

— Precisa melhorar na atuação para me convencer. Você pode comer macarrão?

— Que pergunta... 

— É sério! Você não tem a segunda temporada daquela série pra gravar em Budapeste? — Perguntei já me arrependendo de tê-lo feito.
Acabei me entregando!

Ele tinha um olhar astuto, o mesmo que um gato tem quando encurrala a presa. 

— Estava escondendo o jogo, não é? Continua sendo fã! — Ele concluiu em meio a risadas. 

— Pare ou grito da janela que você está aqui — Disse sem muita convicção. 

— Eu não gostaria, mas seria capaz de pará-la a tempo — Ele me olhou com a certeza de que faria exatamente o que estava falando. 

— Sem gritos, então. Aguarde um pouco, eu já termino o jantar. 

Alguns minutos depois, servi meu famoso talharim com camarões ao molho branco e ervas. Tom me olhou desconfiado. 

— Tem alguma outra forma de entrar aqui? — Ele perguntou prendendo o riso. 

— O que foi agora? Ninguém o encontrará aqui. 

— Alguém entrou por outra porta e te ajudou a fazer isso. Nossa, está muito bom! 

— Muito engraçado. Eu não conhecia esse seu lado descontraído, Mr. White. 

— Desculpe. Acho que minha maneira de elogiá-la não deu muito certo. 

— E você pega pilha muito rápido! — Eu disse sorrindo enquanto roubava um camarão de seu prato. 

      Depois do jantar, eu comecei a me preocupar com Koul.

— Já está meio tarde. Será que alimentaram Koul? — Lhe perguntei sem muita certeza. 

— Você deve mesmo gostar muito de animais, para lembrar do meu cachorro em meio a isso tudo. 

— Sim. Desde pequena, sempre trazia animais da rua que precisavam de ajuda. 

— Gosta de cavalos? 

— Gosto de todos os animais, mas não posso preferir algum que nunca tenha tido contato. 

— No Brasil não tem cavalos? — Ele perguntou já sorrindo. 

— Sim, toda vez que você nos visita — O encarei até ele entender a piada. 

— Touchè. Você tem uma língua bem afiada.

Rimos da nossa conversa estranha. 

— Gostaria de conhecer meus cavalos? 

— Como assim, "meus cavalos", no plural? 

— Só tenho dois em casa. E aí, aceita? 

— Claro, ué. Vamos marcar. Aí, você que vai precisar infiltrar alguém pra te ajudar a me surpreender com um prato decente — O provoquei. 

Talvez estejamos destinados a uma amizade, afinal. 

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Olá, estão gostando? Espero que sim. Este capítulo é uma forma de agradecer à minha primeira leitora/comentadora julianaccruz. Obrigada pelas estrelinhas e pelo carinho.

Mr. White, Mr. Right Onde histórias criam vida. Descubra agora