Vinho e Provocações

426 40 12
                                    

      Quando chegamos, Koul estava em polvorosa. 

— Você se importa se eu tomar um banho antes do jantar? Ainda é um costume meu depois de um dia cheio — Sondei só para ter certeza de não estar sendo indelicada. 

— Claro que não. Eu também vou precisar de um. 

      Momentos depois, encontrei Tom na cozinha, terminando de ajeitar uma tábua com frios e duas taças de vinho. Ele cheirava deliciosamente bem após o banho. 

— Não perguntei se você bebe. Você bebe? 

Eu ri de sua pergunta boba. 

— Sim. Tudo, menos cerveja. Não me desce de modo algum — Falei enquanto o ajudava a colocar as coisas na mesinha de centro da sua sala de estar. 

      Koul comia em sua tigela na cozinha. Nós nos sentamos no chão, encostados no sofá. 

— Me conte, como era sua vida no Brasil? — Tom quis saber. 

— Eu era professora. Ensinava teorias de metodologia científica para alunos de nível técnico de áreas da saúde. 

— Uau! — Ele parecia fascinado — Mas por que saiu de lá?

— Um atraso de vida que eu chamava de namorado. Não é uma história interessante. Agora, prefiro ficar sozinha. Os homens me assustam. 

— Mas você está aqui sozinha comigo. 

— Mas somos só amigos. Você não tem interesse em mim como mulher. 

— E você tem em mim? — Ele me encurralou. 

— Como mulher? Ahh... Nop! Eu ainda não estou bêbada o suficiente para responder — Levei para o lado da brincadeira.

— Você está em casa, pode beber a vontade. 

— Eu já ouvi essa antes — Falei séria demais. 

— E como terminou? 

— Você não gostaria de saber — Encerrei esse assunto, colocando a taça de lado e explorando a tábua de frios. 

— Não confia em mim? — Tom sussurrou próximo demais. 

— Não confio em ninguém.

— Tudo bem, então. Que tal você saber mais sobre mim? Poderia vender informações, se quisesse — Ele propôs. 

— Não sou nenhuma delinquente. Mas, gostaria de saber mais sobre você. Por que ainda está solteiro? 

— Ainda não encontrei alguém que me julgue como um homem normal. Que não busque em mim um personagem que não existe na vida real. 

— Você pode ser bem decepcionante — O provoquei. 

— Mas, quero ter filhos. Queria construir uma família. Estou ficando velho, gostaria de ter um herdeiro a caminho. 

— Você está pensando em uma barrriga de aluguel? — Reagi com surpresa. 

— Já nem sei mais o que quero ou preciso. 

— Eu sei que você não vive sem corridas matinais, jiu-jitsu e sem o seu cachorro. 

— Por falar em lutas, você mencionou algo sobre judô...? — O maldito lembrou. 

— Sim, e eu poderia estrangulá-lo em um piscar de olhos — Eu estava claramente blefando. 

— Não tenho dúvidas. Vou desafiá-la em breve. 

Houve um momento de silêncio antes dele voltar a me instigar. 

— Mas me diga, se pudesse, o que faria agora? — Ele estava realmente interessado. 

— Eu gostaria de poder me sustentar trabalhando na minha área, sou boa com comunicação. Mas só me veria realizada quando pudesse ajudar animais de rua, sabe? No Brasil, a quantidade de animais em situação de abandono é gigantesca e eu não consigo fechar os olhos para isso — Suspirei. 

— É realmente louvável sua atitude, Alana. Estou impressionado. Mas e sobre família? Não pensa em construir uma? 

— Como eu disse, os homens me assustam. Nenhum me deu motivos para confiar, até hoje. Veja minha situação, mal ganho para mim mesma.

— Mas você tem potencial para alcançar isso tudo que deseja. Até uma família. 

— E eu só seria uma mulher de verdade se me casar e tiver filhos? 

— Não, de forma alguma. Mas você seria uma excelente esposa e, com alguma sorte, mãe algum dia. 

— E você não cansa de me provocar. 

Mr. White, Mr. Right Onde histórias criam vida. Descubra agora