Marina.
Em toda a minha vida, nunca tinha realmente considerado que me mudaria em definitivo do Espírito Santo.
Tudo bem, eu tinha me mudado de Cachoeiro de Itapemirim para Vitória para cursar ciências econômicas na Ufes e tinha definitivamente adotado a capital como meu novo lar, mas me mudar para São Paulo foi, no mínimo, uma surpresa.
Tudo tinha acontecido porque a É Massa!, a revista onde eu trabalhava, tinha entrado em processo de recuperação judicial como uma tentativa de não falir de uma vez e pareceu uma solução incrível fazer uma fusão com a No Pique, uma revista de São Paulo na mesma situação.
Foi quase unânime a decisão de ficar com a sede da revista paulista, uma vez que, embora os aluguéis no maior centro financeiro brasileiro fossem bem mais caros do que em Vitória, o mercado para esse tipo de empreendimento era consideravelmente melhor e a perspectiva de crescimento era mais positiva – segundo os gráficos que eu mesma apresentei na reunião que culminou no acordo entre as duas empresas. Eu basicamente alinhei desde o Due Dilligence até a assinatura e o fechamento do contrato, então eu realmente acreditava que além de ser nossa melhor opção, era, infelizmente, nossa única opção.
Então, as revistas juntaram todas as suas dívidas e, em um último suspiro, se tornaram VixSão.
É claro que nem todos os funcionários capixabas acharam que seria uma boa ideia se mudar da Grande Vitória para pequena São Paulo, então acabaram se dispersando entre outras empresas locais e apenas uma pequena parte dos colaboradores resolveram migrar – outros nem tiveram opção, já que foram demitidos antes de poder escolher porque um corte de gastos foi necessário para revista poder continuar funcionando. Novamente, segundo os dados e projeções que eu mesma fiz, ou seja, eu não era uma pessoa muito popular no momento.
De toda forma, Rui Casagrande e Vitório Gava eram literalmente as duas únicas pessoas que eu conhecia em uma cidade de 12,18 milhões de habitantes, já que foram os únicos funcionários da É Massa! que toparam se mudar. E eu estava apavorada com esse fato. Nós não éramos realmente amigos e eu nem acho que eles se lembrem de que eu também estava me mudando.
Mas, ali estava eu. Às três e meia da tarde, com a cara amassada de dormir no ônibus depois de quinze horas de viagem e empurrando uma mala no meio da Rodoviária Tietê, a maior bagunça que eu já havia visto na vida, no coração da capital paulista, torcendo para não ser sequestrada, roubada ou morta, o que era basicamente as notícias que eram veiculadas sobre São Paulo e Rio de Janeiro no estado – talvez seja por isso que a gente seja mais fechado com Minas Gerais. Eu também tinha medo de acabar em um ônibus para Bananal – isso era mesmo o nome de uma cidade? – e acabar perdida no mundo antes mesmo das quatro da tarde.
Com muito cuidado, puxei o celular do bolso e abri o aplicativo do Uber, solicitando uma corrida para o novo apartamento que eu tinha locado. Só por garantia, coloquei o endereço no Google Maps para conferir a rota enquanto o motorista seguia, para evitar qualquer desvio. Tinha lido na internet que, em casos extremos, era bom fingir que eu era filha de um delegado ou que tinha uma viatura me esperando – é sempre bom estar preparada.
Contudo, não houve qualquer desvio e, embora o Maps mostrasse três quilômetros de distância entre um ponto e outro, foram necessários vinte e cinco minutos para chegarmos por causa do fluxo caótico de carros daquela cidade – agora eu entendia o motivo de todo paulista falar sobre distâncias por tempo e não kms. Eu nunca mais ia falar mal do trânsito de Vitória, prometi para mim mesma, enquanto era engolida por um caminho de prédios enormes, ruas movimentadas e uma paisagem urbana que se diferenciava de Vitória pela falta do mar.
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Amor em Revisão (Concluído).
RomanceA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...