CAPÍTULO 29 - Artigo 121

397 64 127
                                    


Marina.

— Você sabe que não encontramos nada no computador dele. — G.G. parecia muito imponente, andando ao redor da cadeira onde eu estava sentada como se fosse um promotor e eu o acusado e ela estivesse realmente tentando me fazer confessar um crime.

Até Vicente, seu gato, parecia estar tentando enxergar a minha alma com seus grandes olhos amarelos. Eu estava realmente com medo de que ele resolvesse usar métodos de tortura, porque eu sabia que suas garras, além de pintadas com esmalte, eram bem afiadas.

— É porque não tem nada para ser encontrado no computador dele, Geórgia — disse eu, calmamente, tentando não fazer movimentos bruscos que pudessem parecer interessantes para o gato.

— Você está dizendo que Felipe usou outros métodos para enviar nosso projeto para a Super Sampa?

Ela talvez devesse mesmo tentar uma carreira jurídica. Estávamos perdendo o policial mau, ou o promotor, ou o juiz linha dura ali.

Eu até conseguia entender o lado dela, de certo modo: Camila e Vitório passavam mais tempo fora do que dentro da revista, e eu não fazia ideia de que desculpa eles estavam dando para poder fazer isso; Ulisses não tinha aparecido para trabalhar e até apresentou um atestado médico, mas tenho certeza que seu problema era ressaca moral depois de ter feito uma serenata bêbada para Camila; e, claro, sem seu redator chefe e o substituto, Adelaide acabou ficando com o cargo de Redator-Chefe interino interino.

— Não — disse eu, com calma. — Estou dizendo que Felipe não passou nenhuma informação para ninguém.

— Você estava no projeto com ele — Geórgia me lembrou, parando suas mãos no encosto da minha cadeira, ficando de pé bem atrás de mim. — Deve ter visto alguma coisa, Marina!

Suspirei e fechei os olhos por um segundo. Eu amava a ideia de ter uma mulher como CEO, mas, as vezes, eu sentia saudade de Clóvis Louzada, seu cheiro constante de sabonete de erva doce e sua personalidade de um porquinho da índia dócil.

— Com todo o respeito, mas eu já respondi essas perguntas antes e as respostas não estão diferentes agora — expliquei, girando na cadeira para poder olhar para G.G. — Preciso terminar os relatórios, será que eu posso ir?

Era a quarta vez naquela semana que eu estava tendo que responder às mesmas perguntas de Geórgia, porque ela tinha certeza que em algum momento eu ia me contradizer e entregar Felipe e seu plano muito bem arquitetado de acabar com a VixSão de uma vez por todas. Estava começando a ficar muito chato, especialmente porque até Adelaide estava tentando fazer amizade comigo e tinha começado a perguntar sobre o caso como quem não queria nada.

Felizmente, a nossa CEO me dispensou com um aceno de mão. Voltei para o financeiro e me joguei pesadamente em cima da cadeira, de saco cheio de ficar respondendo interrogatórios e ouvindo que eu apenas deveria ficar tranquila quando o mundo estava colapsando. Bom, ao menos o mundo da VixSão.

Se o caos de ser acordada por Camila às quatro da manhã tinha um lado bom, era que pelo menos todo mundo estava relativamente bem, até Felipe, e tecnicamente ele não estava me dando um gelo porque nós não éramos mais um possível casal. Mas eu ainda não gostava da sensação de que todo mundo sabia de algo e eu estava de fora.

— Para quem anda fugindo da G.G., você até que tem estado bastante na sala dela — Josué comentou, sentado ao meu lado enquanto inseria fórmulas no Excel sem tirar os olhos da tela, treinado demais a fazer aquilo de forma muito produtiva.

— Não é como se eu tivesse escolha — murmurei de volta, apertando o botão do meu próprio CPU.

— Você parece brava. — Josué finalmente olhou para mim. Eu achava o máximo que ele sempre estivesse de gravata mesmo trabalhando em um revista, tecnicamente um local um pouco menos formal. — Devo proteger a Comic Sans MS do meu computador?

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora