CAPÍTULO 03 - VixSão: Dia I

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Felipe.

Quando eu disse para minha mãe que eu ia fazer filosofia, ela riu de mim e me mandou tomar jeito na vida, então eu escolhi jornalismo e aceitei que meu futuro seria de um filósofo frustrado, pois eu duvido que a mãe de Platão disse para ele cair na real e arranjar logo um emprego.

Veja bem, eu não estou reclamando do meu emprego de redator chefe da No Pique, que agora era VixSão, porque eu realmente gosto do meu trabalho e acho que tenho espaço o suficiente para usar a genialidade que minha mãe não viu em mim, mas eu não me incomodaria nenhum pouco em poder usar essa genialidade para mudar gerações com todas as coisas brilhantes que eu penso. Platão e Sócrates foram assim, portanto, possivelmente esse é o melhor caminho.

Então quando a Camila me disse que queria uma opinião no artigo dela sobre comportamento humano das pessoas em barzinhos, eu estranhei um pouco e logo pensei que ela havia descoberto que meu encontro do Tinder me deu um bolo. Eu não havia comentado com ela que a Maitê — também conhecida como a confeiteira do Tinder que não apareceu e ainda desdeu o match da noite anterior — não apareceu, apenas disse que a gente não deu certo porque ela não gostava de café e basicamente meu sangue era cafeína pura. Se ela não acreditou, não disse nada, mas continuamos a falar sobre a conjunção social de falar ou não com estranhos no bar ser considerado um flerte descabido.

E eu, como o bom colega de trabalho que era, informei que não, mas que dependendo do momento poderia ser, afinal, tudo na vida era dependente de uma eterna variável que estava fora do nosso controle. Algumas coisas estão cheias de subjetivismo e analisar um fenômeno social de maneira objetiva não ajudava a explicar nada - sempre havia um grande depende envolvido, que podia ser algo fora da curva; algo que não dava para prever e que, ainda assim, mudaria toda a perspectiva da análise.

Tipo a Marina.

Deuses, por que eu não pedi o telefone dela no final da noite?

De verdade, Felipe Galhardo, por que você não pediu o telefone dela? Ou pelo menos o facebook? Qualquer coisa que pudesse comprovar que Marina Eugência — Eugência, porque aquela garota bebeu mais de sete garrafas da cerveja e ainda conseguiu se equilibrar naquelas belas pernas — realmente existia e não era um delírio da bebida ou algum tipo de mecanismo cerebral para aliviar o impacto do bolo de Maitê.

Afinal, não era todo dia que um cara como eu poderia dizer que estava, finalmente, no número quatro.

— Mas você não acha que, se você está conversando com uma pessoa e ela se vira na sua direção, isso significa que ela claramente está interessada? — ela perguntou e eu considerei, pois havia mesmo uma vertente na psicologia de casais que dizia que se uma pessoa se afasta, instintivamente a outra se afastava, logo, o oposto deveria ser verdade.

— Sim, mas só por uma pessoa se virar na sua direção não significa necessariamente que ela quer o seu corpo nu, entendeu? — eu expliquei mais uma vez, pois ela não parecia entender o conceito de ser apenas amigável com outras pessoas e isso me preocupava um pouco.

— Tem certeza? — ela pegou uma caneta que prendia seus cabelos encaracolados e começou a morder uma tampa.

Havia um cemitérios de tampas na No Pique que se chamava Camitério, pois ela havia destruído provavelmente a tampa de todas as canetas do nosso setor. Será que isso ainda seria permitido quando o povo do Espírito Santo chegasse? Algumas noções de higiene eram importantes, especialmente para receber pessoas diferentes.

Eu sei que a Geórgia Guilhermina, nossa amada e temida CEO, estava quase entrando em convulsão, pois aquela fusão era a solução de todos os nossos problemas e a nossa maior perdição, já que de vinte funcionários da revista capixaba com a qual tínhamos fundido, apenas três aceitaram a nossa proposta e decidiram vir para São Paulo, ou seja, ficamos conhecidos como um genocídio trabalhista quando estes números foram publicados.

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora