CAPÍTULO 49 - Você realmente ouve Taylor Swift

484 73 199
                                    


Marina.

Eu meio que relutei quando Felipe insistiu para ficar com meu celular naquela tarde para que eu não ficasse me torturando, mas ele estava, como quase sempre, certo. Teria sido bem pior se eu tivesse passado a tarde procurando nas trocas de mensagens com Rui qualquer sinal de que nosso término estava prestes a acontecer.

Ou mesmo olhando suas fotos no Instagram, porque não importava para qual eu olhasse, todas eram lindas, mesmo aquelas em que ele estava com pose de macho hétero top junto com vários amigos e eu mal conseguia ver de verdade os detalhes do seu rosto e do seu sorrisinho metido à besta.

Ficar sem celular também foi bom porque me impediu de ligar para Bárbara para contar que eu era uma perfeita idiota e ela tentar falar que não, numa sessão enorme de autocoitadismo que ela não merecia ser obrigada a escutar.

Eu ia sobreviver ao Rui e ao meu coração partido. Ninguém nunca morreu de amor, certo? Mesmo na maior história de amor, Romeu e Julieta, eles só morreram por causa do veneno. E, sinceramente, eles tinham 13 e 17 anos, não precisava de todo aquele drama.

De todo modo, para não acabar pegando o notebook e sofrendo por Rui em uma tela maior, eu acabei saindo de casa com Evaristo para ir ao mercado e comprar uma quantidade absurda de chocolate que faria minhas espinhas se sentirem no auge da minha adolescência.

Voltei para casa com metade do estoque de uma franquia da Cacau Show e um purificador de água novo que tinha largado ao lado da mesinha de centro, no meio da sala, porque eu não sabia como instalar um purificador de água e não queria pedir para ninguém fazer isso por mim quando eu era a personificação da derrota.

Até tentei me distrair do fato de que estava naquele poço de dor-de-cotovelo vendo séries, mas quando Geralt de Rívia, o Bruxão, começou a ficar caidinho pela Yennefer eu realmente não consegui mais continuar vendo aquilo, embora Jaskier cantando "Toss a coin to your witcher, oh Valley of Plent, oh Valley of Plenty" quase tenha conseguido me animar antes de eu desligar a televisão.

Havia um bruxão, no entanto, que jamais me desapontava e aquele era José Eugêncio da Silva. Felipe tinha mandado um rappi com um engradado de Eugências para mim mais cedo, então, naquele exato momento, eu estava deitada no sofá me dividindo entre beber cerveja de mel de laranjeira, morder uma barra de chocolate 70% cacau que era amarga como minha vida e não me permitir esquecer que Evaristo estava deitado em cima da minha barriga e acabar derrubando meu bebezão.

Até ele, um filhote de Chow-Chow que definitivamente estava ficando grande demais para conseguir deitar em mim de forma satisfatória sem as patas caindo para os lados, tinha entendido que a mamãe estava triste e variava entre olhar para o meu rosto com seus olhões preocupados e lamber o meu queixo em busca de chocolate.

Alexa estava reproduzindo uma playlist que combinava com meu estado de espírito, cheia de sofrência para arrastar o chifre no asfalto até músicas românticas que me faziam chorar e Pedro & Thiago.

Fiz carinho na cabeça de Evaristo e prometi para ele que dali a cinco minutinhos eu ia levantar para acender a luz e pegar outro chocolate canino para ele, porque estava me sentindo culpada por ter lhe levado para o fundo do poço comigo e ainda estar deixando a casa no completo breu simplesmente porque não tinha ânimo para sair do sofá.

Claro que a vida não ia me permitir ficar ali por muito tempo. A campainha tocou, fazendo Evaristo se remexer inquieto e se levantar correndo de cima da minha barriga para farejar quem quer que fosse. Evinha literalmente pisou na minha cara para saltar por cima do sofá e eu achei até poético, naquele estado de espírito. Eu estava me sentindo como se alguém tivesse pisado em mim e agora era verdade.

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora