Marina.
Sejamos sinceros: uma leve dor no ego surgiu quando Felipe verbalizou que nós funcionávamos melhor como amigos.
Não que eu discordasse, ele estava absolutamente certo e eu acho que percebi isso quando estávamos dançando e eu hesitei em beijá-lo no meio do nosso encontro, que é tecnicamente o momento certo para demonstrar a atração que sentíamos um pelo outro. O que teria acontecido se não houvesse um pequeno empecilho: ela meio que não existia.
Nós poderíamos ter sido mais, em outras circunstâncias, mas, nessas… Éramos amigos. Apenas. Somente. E eu admirava a forma madura como tínhamos chegado àquela conclusão, ainda que meu eu daquela noite tenha decidido que precisava desabafar sobre o assunto. Com Bárbara Lopes, precisamente.
Por isso eu liguei para ela. Eu não tinha certeza que ela tinha me atendido, mas então eu ouvi um murmúrio do outro lado da linha e sua voz meio confusa, balbuciando algo como “espero que seja importante porque o jornal está me esgotando e eu finalmente estava dormindo”.
Aí eu disse algo como “Felipe quer ser só meu amigo”.
Ela respondeu “e você quer ser mais do que isso para ele?”
Então eu refleti: “quero ser a melhor amiga dele!”.
Bárbara disse algo como “então é um ótimo primeiro passo ser amiga dele, certo?”.
E foi com essas duas frases que ela me convenceu que estava tudo bem. Talvez meu eu daquela noite tenha realmente resolvido ligar para a pessoa certa, afinal, quem melhor do que Bárbara para me ajudar a superar aquilo? Ela até podia fazer o estilo filósofa política e aplicar na vida algumas teorias de O Príncipe, da Maquiavel (de forma menos radical, já que segundo ela, o livro falava sobre guerras de poder e era um pouco… intenso), mas era uma pessoa totalmente prática e que via as coisas de um ângulo muito racional.
De todo modo, eu fiquei pensando que seria esquisito ser amiga do Felipe depois disso. Como ia ser chegar na segunda-feira, na revista, e não ter mais aquele lance meio-amizade-meio-rolo com ele? Será que ainda teria clima para a convivência entre seus amigos e eu? Não parecia natural.
Depois que eu terminei com Maurício eu não continuei amiga dele ou de Daniel e Patrícia, que eram seus melhores amigos — claro que muito disso se devia ao fato de que eu estava em São Paulo e eles continuavam em Vitória, mas não é como se eu tivesse tido qualquer contato com eles, por mais virtual que tivesse sido. Bom, desconsiderando o fato de que Daniel tinha curtido todas as fotos do meu Instagram e respondido um story com aquela reação de olhos apaixonados.
Claramente eu não sabia como ser amiga de pessoas que eu tinha beijado.
Mas Felipe, provavelmente baseado na máxima aristotélica de que “devemos tratar nossos amigos como queremos que eles nos tratem”, sabia.
Tudo começou com ele me marcando em um meme bobo sobre pessoas que não superaram KLB. Aí eu disse que a música do dia anterior era de Pedro & Thiago. E ele respondeu que sabia que eu também escutava Ela não está aqui e eu infelizmente não pude negar meu gosto musical. Depois marquei Felipe em uma postagem que modernizava as frases célebres de Sócrates e eu tenho certeza que ele achou aquilo quase um pecado. Ele perguntou do Evaristo e eu enviei várias fotos dele roendo os móveis porque não suportava os próprios dentes nascendo.
E de repente Felipe era Felipe Galhardinho de novo, assim, sem parecer esquisito nem nada. Eu não menti quando ele perguntou se estava tudo bem depois do dia anterior, porque eu respondi que sim e era verdade. Então ele me mandou um vídeo que tinha feito de mim gritando “toca Raul!” e assustando o vocalista da banda, que me olhou como se eu fosse um extraterrestre, na noite anterior. Ele estava rindo ao fundo e eu amei o som da sua risada e ri junto.
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Amor em Revisão (Concluído).
RomanceA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...