Felipe.
O Rui tinha terminado com a Marina.
Eu me lembrei daqueles grandes olhos verdes chorando no banheiro e por mais que todos nós conhecêssemos a fama de Rui Casagrande, eu pensei que, por algum motivo, havia algo de diferente ali.
Talvez porque eles estavam juntos por várias semanas naquele momento.
Talvez porque os olhos dele sempre pousavam nela com um sorriso.
Talvez porque eu soubesse que ele a fazia tão feliz que ela nunca mais pisou no meu pé mesmo quando eu pedia novos relatórios com menos tabelas e mais gráficos.
Eu não sei. Eu só...
Meneei minha cabeça, amassando mais uma bola de papel e tentando acertar o lixo, mas realmente acertando Vicente, que apenas me olhou com reprovação e continuou sua sessão de higiene pessoal.
A porta da minha sala foi aberta e eu comecei a bater minhas mãos no teclado, fingindo que estava trabalhando, contudo a tela estava bloqueada, então foi uma tentativa extremamente falha e óbvia.
Pelo menos era apenas Malu.
Quero dizer, como se Malu fosse apenas Malu.
— Boa noite, Fê — ela me cumprimentou e viu a sequência de sete bolinhas de papel perto do lixo/ Vicente e apenas sorriu para mim — vai demorar muito? Leandro quer me levar nesta loja de lençóis...
— Eu juro que o Leandro deve ganhar alguma comissão por indicação. Eu tenho certeza de que a VixSão inteira compra lençóis no mesmo lugar — eu resmunguei, sabendo que deveria ter dito com um pouco menos de amargor e mais brincadeira, porém eu não conseguia.
O Rui terminou com a Marina.
— Bem, tendo ótima qualidade, que mal tem? — ela arrumou a alça de sua bolsa em seu ombro e continuou sorrindo para mim, como uma fresta de sol tentando atravessar uma grande e densa nuvem de chuva — precisa de mim?
— Não, a edição desta semana está impecável — eu sorri para ela, porém eu soube que aquela falsa alegria não chegava até meus olhos.
Não tinha como estar feliz quando uma das suas melhores amigas estava sofrendo.
Ela estava sofrendo tanto que eu dei o restante do dia de folga para ela, pois seus olhos estavam inchados e ela não conseguia parar de soluçar — não lhe faria bem nenhum continuar no trabalho e ter todas as pessoas do mundo perguntando se ela estava bem.
Eu também fiquei com o seu celular, pois eu sabia que ela enfiaria uma música de Pedro e Thiago e choraria mais um pouco relendo as conversas e revendo as fotos dos dois. Óbvio que eu desliguei o aparelho. O plano era devolvê-lo hoje de noite junto com um engradado de Eugência.
O problema era que... eu sentia que mesmo depois de tanto tempo, a alma gêmea capixaba dela era a única que poderia ajudá-la a superar aquele galã e eu tinha certeza de que Bárbara não ficaria nenhum pouco contente com ninguém em saber como aquela história havia terminado.
— Eu não estava falando da revista — ela se aproximou de mim, tocando minha mão com apenas um pouco de carinho, pois, para fazermos aquilo funcionar, tínhamos que manter o pessoal fora de dentro das paredes da empresa.
— Eu só estou com algumas coisas na cabeça — eu lhe expliquei da melhor maneira possível, pois, desta vez, não queria trair o segredo da Marina. Nem mesmo por Malu.
— Se eu puder ajudar com algo, sabe que eu estou sempre aqui por você — ela apertou minha mão e a soltou.
— Bem, se realmente quiser fazer algo por mim, podemos esquecer a cozinha americana? — eu sugeri e ela gargalhou.
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Amor em Revisão (Concluído).
RomanceA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...