CAPÍTULO 33 - Como diria Kant

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Marina.

— Então, se eu ficar magoada pelo que eles fizeram pelas minhas costas, eu vou estar sendo super egoísta? — perguntei, olhando de Anabel para Gael e vice-versa, porque a opinião de Leandro não era imparcial. — Não porque Felipe precisava de um tempo para ele, isso eu super entendi, mas pelo resto.

Aquela situação era bem semelhante ao que eu sempre imaginei como sendo o fundo do poço para mim. Eu estava sentada na calçada, exatamente às 9h37 da manhã de uma segunda-feira, junto com minha vizinha e seu amigo — pessoas que, quando eu cheguei a São Paulo, tinha certeza que estavam planejando um assalto a banco ou coisa assim — enquanto eles fumavam narguilé, porque Anabel só tinha aulas à noite e Gael estava, atualmente, em busca de um emprego. Jonas não estava presente porque estava no trabalho.

E, claro, havia Leandro. Porque ele também tinha sido deixado de fora dos planos de todo mundo e seu queixo também foi ao chão quando todos explicaram o motivo por trás do sumiço. Outra revista, veja bem. Eles estavam planejando outra revista! Inteira, do zero, com Felipe e Camila como maestros e entrevistas com o Zé, com a Melissa, com um advogado internacional que talvez tenha abalado até a autoestima de Rui e com matérias e chamadas novas e...

Era incrível, eu não podia negar. Felipe Galhardo era simplesmente o melhor no que fazia e claramente queria (e ia) esfregar isso na cara de Geórgia Guilhermina e de qualquer um que tenha duvidado disso.

Mas ao mesmo tempo, me deixaram de fora. E Leandro também. Como se... Não confiassem na gente. O que era errado, é claro, porque desde o começo eu estive no planejamento da VixSão+. Achei que éramos um time, todos, mas aparentemente Leandro e eu éramos os reservas.

De todo modo, optamos por não chegar no horário na revista e esperar até que o squad buscasse as revistas na gráfica para que não acabássemos dando com a língua nos dentes sem querer antes que eles chegassem com sua pequena revolução. Eu sabia que Adelaide iria sentir no ar que sabíamos de alguma coisa.

Embora, é claro, nós não tivéssemos sentido seu cheiro de culpada.

Eu tinha dito que Evaristo estava passando mal e ia para o hospital veterinário, o que felizmente era mentira, porque ele estava feliz brincando com Anabel. Leandro disse que estava sem carro e ia se atrasar por causa do trem - embora ele claramente estivesse de carro, o que era estranho porque eu sabia que ele tinha estourado os pontos da habilitação.

E foi por isso que, me sentindo uma tremenda fdp egoísta por estar brava por ter sido deixada de fora ao invés de grata por ter alguém tentando salvar a revista, fui me consultar com meus amigos (acho que já podia chamá-los assim, já que Anabel sempre ia em casa para ver o Eva e me ajudava a escolher a melhor ração e a entender comportamentos estranhos dele, já que estava quase formada em Veterinária, e Gael era muito legal e sempre trazia morangos orgânicos da feira para mim, porque seus pais vendiam) que poderiam dar uma opinião honesta e desinteressada.

Chamei Leandro porque, bem, nós éramos os dois mosqueteiros esquecidos no rolê. E ele não pareceu fazer objeção a isso, inclusive se sentou no chão sem fazer careta (eu tinha certeza que ele era o amigo mais engomadinho de Felipe) e até topou experimentar o narguilé de Ana e Gael, porque eles falaram que a essência ice era incrível. Claro que aquilo acabou com Leandro tossindo como um louco e lacrimejando ao meu lado e reclamando do cheiro de fumaça na sua camisa.

— Mas você tem certeza que não está brava... — franzi o cenho para Gael. Eu não estava brava. — Ok, você tem certeza de que não está considerando ficar brava porque pensou que Felipe estava te dando gelo, já que vocês combinaram de ser apenas amigos?

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora