CAPÍTULO 05 - Canastra em equipe

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Felipe.

Eu não rendi nada do trabalho naquela tarde e isso nunca acontecia comigo. Nunca.

Tudo o que eu conseguia pensar era que eu havia feito a coisa mais inusitada da minha vida que foi beijar Marina na salinha do Otávio e, para a minha maior surpresa, ela não pareceu assustada depois. Eu ouso dizer que ela pode até ter... gostado? Não seria isso bom?

Então tudo o que eu conseguia fazer era trocar de tela do word para despistar Camila, fingindo que eu realmente estava corrigindo um artigo para a nossa primeira edição como VixSão, quando, na verdade, eu só conseguia olhar para o relógio esperando dar 18h e oficialmente o horário da breja na casa do Leandro começar.

Como isso tudo aconteceu eu ainda não entendia, pois nós éramos uma equipe relativamente sociável e amiga, porém não o suficiente para beber de segunda-feira e jogar canastra — e eu não queria admitir para ninguém que não sabia jogar. Seria humilhante, então eu só conseguia pensar em diversas distrações para quando as pessoas sugerissem jogos de cartas.

Todas elas envolviam beber como retardados e adolescentes, o que eu não sabia se era a vibe do pessoal capixaba, porque eles tinham uma cara engomadinha e constipada — menos a Marina, ela é linda.

Eu revirei meus olhos, afundando-me na minha mesa, acumulando uma sequência de e-mails não lidos em minha caixa de entrada apenas para ver que Camila tinha uma tampinha vermelha nova entre os lábios e um sorriso entendedor na minha direção — e quando eu digo entendedor, era tipo a máxima délfica "Conheça a ti mesmo", mas no caso dela estava mais para "conheça a Felipe", porque ela sempre parecia entender algo sobre mim que nem mesmo eu havia captado.

Acho que foi por esse jeito dela, de quem tinha todas as respostas do mundo, que eu, uma pobre borboleta indefesa, caí em suas teias de aranha e uns meses antes trocamos uns beijos bêbados e confusos e estranhos — bons, claro, afinal era Camila e ela tinha uma expertise em beijar o sexo masculino que eu duvidava que outra pessoa possuía —, mas percebemos que era melhor manter a amizade do que aquela coisa não definida de uma noite.

Beijos confusos e manter a amizade era algo que eu fazia muito bem, visto que eu tinha contato com Malu Guedes, minha ex-namorada até hoje, e Camila. Tinha uma terceira — que na verdade foi a primeira — no ano novo de 2010, mas eu prefiro não comentar sobre isso. A agora tinha a Marina.

De todo jeito, a Camila era extremamente comprometida em arrumar a minha vida amorosa — ou a falta dela, eu suspeitava — e ela deveria ter escolhido Marina como o nosso novo objeto de atenção para mim.

Eu queria tanto contar para ela que eu não precisava da ajuda dela para nada daquilo porque eu já havia beijado aquela boca deliciosa — maravilhosa, quero dizer — da Marina duas vezes e possivelmente faria isso mais vezes caso surgissem outras oportunidades. Talvez eu estivesse torcendo um pouco para ela me puxar para A Salinha a qualquer momento.

No entanto, eu não poderia dizer isso para Camila, afinal, depois de Marina acertar Leandro com o maior chute da história no almoço de hoje, estava claro que ela não queria que ninguém soubesse de nós dois — se é que havia um nós dois para saber, porque dois beijos em menos de 24 horas não significavam nada, não é? Pessoas faziam isso o tempo todo.

Eu olhei de novo para o relógio e percebi que haviam passado apenas cinco minutos desde a última vez que eu olhei para ele, então apenas revirei meus olhos e senti uma bolinha de papel atingir minha cabeça. Camila estava indicando com olhos maníacos o seu e-mail.

Abri minha tela e vi que havia um novo e-mail dela com assunto pouco discreto:


De: Camila Nogueira <cnogueira@vixsao.com.br>

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora