Felipe.
Quando eu chamei a Marina para sair duas semanas antes não fazia a menor ideia do caos que seria instaurado nas duas semanas seguintes, pois de acordo com uma pesquisa de campo da Camila — provavelmente ela havia seduzido alguém para saber o que sabia — nossa maior concorrente, a Super Sampa estava planejando uma versão online com conteúdos exclusivos, assim como era o projeto da VixSão+.
No mundo editorial, como em qualquer outro, o tempo é o seu maior aliado — e maior rival — pois de nada adianta escrever uma matéria completa com trinta páginas que poderia ganhar o Nobel da literatura se sua concorrente havia lançado aquela mesma manchete de maneira desleixada duas horas antes. Tempo era tudo. Era sempre uma corrida.
Por este motivo a G.G. naquela semana não soltou nenhum "querido" e quase arremessou um grampeador na testa do Cleyton quando ele sugeriu que precisávamos de exercícios laborais todas as manhãs para o bem físico da equipe — até mesmo Vicente estava esperto e escapou de virar uma bolsa de pelo da pérsia.
A data prevista do lançamento virtual era em um mês, porém tivemos que adiantar para duas semanas. O que nos dava oito dias úteis para conseguirmos pensar em todos os conteúdos que precisávamos para encher as cinquenta páginas que a Marina vendeu — "menos que isso ninguém paga", ela disse, "mais que isso ninguém lê". Alguém conta pra ela que a Capricho tem trinta páginas e vende mais que limonada no verão?
Eu me sentia um maestro e compositor ao mesmo tempo, pois, enquanto eu estava editando e costurando as reportagens que meus repórteres forneciam, eu ainda tinha que aperfeiçoar a Saga da Cerveja, como todos apelidaram minha coluna, pois a G.G. ficou sabendo que eu havia focado em ser um bate-papo despretensioso com o cervejeiro e queria mais detalhes sobre o país em questão, como um raio-x.
Eu amava meu emprego.
Eu precisava do meu emprego.
Eu queria ficar no meu emprego.
No entanto, às vezes eu tinha vontade de pegar meu telefone, discar um certo número e dizer sim, só pra ter a satisfação de finalmente fazer o que eu era pago para fazer! Qual a dificuldade de deixar o Redator chefe, O Editor Master, cuidar da revista? Todo mundo tinha um pitaco sobre ortografia, construção de palavras, localização da imagem e, pasmem, até mesmo sugerir que colocássemos Vitório Gava, o melhor repórter "furos" do país, para tocar uma sessão de meditação e cultura oriental — óbvio que isso tinha que ter vindo da Adelaide e seu cérebro oxigenado. Nada contra as loiras.
Minha vida se tornou um calendário de presidiário, onde eu estava apenas contando as horas para conseguir entregar a primeira versão da VixSão+ — além da nossa tradicional versão impressa, então, sem pânico, certo? Pânico.
Nestes dias, Camila, Ulisses, Vitório foram os meus braços direitos, esquerdo e pernas, pegando todas as matérias dos outros repórteres e começando a organizar da maneira que expliquei, para que eu pudesse ter um tempo hábil de estruturar nosso editorial para que a G.G. pudesse aprovar sem muitas ressalvas, pois, tecnicamente, não tínhamos tempo para ressalvas.
Quando chegou sexta-feira, nós tínhamos até a terça da semana seguinte para concluir todos os detalhes, até a Malu, a calma e plena número dois, mandou a Adelaide sentar sua poupança na cadeira e parar de falar como ela deve trabalhar. A Malu! Eu poderia ter beijado aquela boca maravilhosa se a gente ainda estivesse junto — eu e todas as pessoas do meu andar, aparentemente, pela maneira como eles estavam fascinados com minha ex-namorada. Eu tive que responder diversas vezes para diversas pessoas diferentes que nós tínhamos sim namorado e que eu não a chantageei para que ela aceitasse. Nada fora do que eu já estava acostumado.
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Amor em Revisão (Concluído).
Roman d'amourA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...