Marina.
Eu demorei um pouco para entender o que estava acontecendo naquela revista e, talvez, aqueles breves momentos de ignorância enquanto eu não entendia completamente a reação de Felipe após sair da sala de G.G., se recusar a falar com qualquer um e ir embora sem nem olhar para trás, fossem um auxílio divino para que eu me preparasse para o que estava por vir.
A Super Sampa literalmente tinha anunciado uma publicação com todas as matérias da VixSão+. No fim das contas, ia parecer que nós tínhamos copiado tudo deles, o que somado ao processo de Paula por obtenção ilegal de provas era quase como confirmar que sim, nós tínhamos o péssimo hábito de roubar coisas.
Nosso projeto era incrível. Estávamos com a faca e o queijo na mão para voltar a fazer sucesso, mas, de alguma forma, ao invés de cortar o queijo nós tínhamos enfiado a faca no peito e iríamos sangrar até a morte.
Eu ia assistir a VixSão morrer prematuramente e não ia poder fazer nada sobre isso. Haveria demissão em massa e eu não sabia se havia mais cortes possíveis sem defasar demais os setores da revista a ponto de... Simplesmente não dar para trabalhar.
Eu não sabia quantas edições iríamos poder lançar nesse período de tempo para tentar manter a revista, pelo menos, funcionando, ainda que de um modo medíocre.
E a pior parte era que tinham colocado a culpa da edição virtual da Super Sampa estar exatamente igual à nossa em Felipe.
Felipe!
Eu o conhecia há bem menos tempo do que a maioria dos colaboradores e conseguia enxergar o quão ridículo aquilo era. Ele era provavelmente uma das pessoas que mais amava aquele projeto, tanto que tinha recusado uma vaga na concorrência, o que não parecia combinar muito com a ideia de espionar para eles a empresa onde ele efetivamente ia continuar trabalhando.
O caos estava instaurado.
E eu tinha ido chorar no banheiro porque ninguém parecia saber o que fazer. Felipe costumava ser o maestro da orquestra e agora éramos os músicos do Titanic, esperando o navio afundar, mas tocando músicas completamente diferentes porque não havia ninguém para coordenar.
Tentei ligar para Felipe mais uma vez, porém, novamente, sua voz me mandou deixar um recado na caixa postal. Encarei meu reflexo no espelho, tentando me acalmar com a ideia de que Camila e Malu tinham ido atrás dele e ele não estaria sozinho.
Eu precisava pensar. Ser racional. Achar a fórmula matemática perfeita para resolver aquele problema, mesmo com as variáveis que tinham surgido. Mas naquele momento meu rosto inchado e a maquiagem borrada eram o reflexo de que tudo daria errado.
Ouvi uma batidinha leve na porta.
— Marina? — disse e eu nem consegui responder. Apenas mordi o lábio inferior para não soluçar. — É a Tamara. Vou entrar.
Ela abriu e olhou para mim. Tamara era decente e legal demais para comentar que eu estava parecendo um urso panda invertido cheio de rímel borrado e soluçando como uma criança enquanto chorava e esperava uma solução mágica brotar, aparentemente, de um vaso sanitário.
— Desculpa, eu... — comecei, tentando parar de chorar e falhando.
— Não tem problema, eu sei que você adora o Galhardinho e também acha um absurdo essa acusação sem fundamento, mas Camila e Malu foram para o apartamento dele e Rui e Leandro estão na sala da Geórgia. Eles pareciam bem determinados quando entraram — ela disse, de forma gentil o suficiente para que eu me esforçasse um pouco mais para parar de chorar.
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Amor em Revisão (Concluído).
Roman d'amourA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...