Felipe.
Eu sentia olhos por onde quer que eu fosse. Seguindo cada passo que eu tentava dar, tendo completa certeza de que estava sendo seguido.
Só tive certeza de que não estava louco quando entrei na cozinha para pegar mais um café e a porta se fechou em um baque atrás de mim, revelando Marina e Camila de braços cruzados, olhando para mim como se eu fosse um ladrão que estivesse prestes a roubar o último morango do fondue.
— Quer café? — eu perguntei com calma, deixando de abastecer a minha xícara para que elas se servissem antes.
Então eu recebi um tapa no ombro da Camila e um pisão no pé da Marina.
— Ei, ei, para que essa agressividade gratuita? — eu estava rendido, quase me jogando no chão para não continuar apanhando — eu juro que não ia acabar com o café de novo. Ontem foi acidente. Eu não sabia que era o último pacote!
Eu esperei ser queimado vivo por ter sido um péssimo colega de casa, porém o fogo nunca veio e eu voltei a olhar para elas.
— Como você não me contou que voltou com a Malu?
— Como você voltou com a Malu?
— Desde quando vocês estão juntos?
— Isso é oficial ou foi só uma recaída?
— E gente oficialmente pode considerar o seu rolo com a Tamara como acabado?
— Claro que sim, ele já falou isso.
— Não disse!
— Eu apanhei por beijar a Malu? — eu indaguei, tentando acompanhar o ritmo delas de conversa, contudo eu tinha certeza de que havia perdido algo no meio da confusão de agressão física e verbal.
— Você apanhou porque não nos contou — a Camila voltou a cruzar seus olhos, esperando que eu retrucasse.
— Ah, então da próxima vez eu devo olhar para ela e dizer "espera dois minutos", contar para vocês do meu plano romântico de beijá-la, e aí voltar e beijá-la? — eu me servi de café, pois ter uma conversa daquelas sem o meu combustível era impensável.
As duas se olharam, pensando em conjunto naquela resposta e eu comecei a me perguntar quando foi que elas haviam se tornado tão amigas a ponto de terem aquele tipo de conversa não-verbal que nem mesmo eu conseguisse entender.
— Tudo bem, desta vez você está livre — Marina disse e Camila concordou.
Finalmente, respirei aliviado.
— Mas agora queremos detalhes — Camila segurou a gola de minha blusa e me puxou para perto com seus olhos maníacos — como, quando, onde, porquê, foi bom...?
— Cams, não — eu coloquei minha mão em cima das dela e bebi meu café. Droga, estava começando a esfriar.
— Eu preciso de material para a minha matéria sobre pessoas que continuam convivendo com seu ex, mas que agora se tornou em uma matéria sobre como voltar com o seu ex — ela me recriminou, como se aquilo fosse culpa minha.
— Você não é uma repórter que responde apenas "como", você busca o "porquê". E se eu te der esta resposta, qual a graça? — eu a desafiei e vi suas engrenagens começando a funcionar, rezando para que ela concordasse comigo.
A porta da cozinha se abriu e ela me soltou, tentando desamassar o local em que suas mãos haviam tão brutalmente me ameaçado.
Vitório entrou na cozinha junto com Rui — sério que eles nunca andavam separados? Será que o Vitório estava sempre do lado quando a Marina ficava com o Rui? Isso seria estranho — e eles cumprimentaram todos nós antes do Rui começar a pegar uns ovos e se oferecer a fazer omeletes para nós.

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Amor em Revisão (Concluído).
RomansA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...