CAPÍTULO 16 - Língua Ferina

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Felipe.

A matemática da noite ficou complexa quando Tamara me deu um cutucão de repente, apontando para Rui-fígado-de-ferro e ele estava cantando Legião Urbana, mandando um áudio para Vitório, enquanto Marina gritava para a banda tocar Raul, acabando-se de tanto que ria.

Assim, decidimos ir embora. No caso, Tamara deu seu braço para Marina, conversando sobre o batom da minha acompanhante que não havia saído a noite inteira e que ela precisava saber de qual marca que era, enquanto eu segui meu rumo ao lado de Rui, preparado para socorrê-lo caso ele tropeçasse em uma pedra imaginária, porém ele realmente estava andando normalmente, com as mãos enfiadas no bolso da calça como quem não havia bebido sozinho mais de dez garrafas de Eugência.

De repente, quando eu notei, Marina convidou todo mundo para um after na casa dela, anunciando ainda mais álcool e uma playlist que eu já bem conhecia e sabia que era completamente duvidosa, porém Tamara apenas riu e disse que iria pedir um Uber para casa, então, como o rapaz meramente decente que eu era, eu ofereci aos dois uma carona.

Foi assim que Rui acabou sentado no banco de passageiro. Aparentemente as pernas dele eram longas demais para terem espaço no meu pequeno HB20 — mas eu sabia que Vitório dirigia um Honda Fit, então ele não poderia ser tão criterioso assim com espaço —, e Tamara e Marina ficaram no banco de trás.

— Rui! — Marina o chamou e ele apenas inclinou a cabeça na direção dela, de olhos fechados, possivelmente já entrando em um estado de sono rem — Casaca vai tocar no Ibirapuera em um show aberto mês que vem! Vamos? Vitório também!

— Pode falar que você só gosta dessa banda porque eles têm uma música com seu nome — ele comentou e até mesmo eu consegui ouvir o sorriso na voz dele.

— Você tem ciúmes. O sonho de qualquer um é ter um cantor cantando seu nome — Tamara comentou, enfiando um chiclete de cor roxa na boca. — Na época que Pitbull era sucesso, a minha maior frustração era que eles não cantavam Tamara naquela música "Hotel Room Service".

— Nossa você conseguiu desenterrar essa música — eu comentei, aumentando o volume do meu rádio e entregando meu celular para Marina. — Vai, pode colocar.

Os olhos de Marina brilharam como esmeraldas com a possibilidade de ser a DJ da noite e poder bisbilhotar nas minhas músicas aleatórias — ela passeou por Pitbull, Drake e alguns hip hops que foram muito vaiados pela loira.

— Tá, eu te deixo na sua casa mesmo? — eu perguntei a Tamara, virando à direita na Brigadeiro, endereçando-me em direção da casa dela.

Na verdade, por logística, a Marina era a que morava mais perto do bar, então deveria ser a primeira a ser deixada em casa, porém nós dois estávamos em um encontro, então fazia mais sentido despachar os outros dois e depois deixar Marina em casa — claramente eu não contei para ela este meu plano, porém eu acho que ela já conseguia entender o suficiente de São Paulo para saber que estávamos indo para o lado oposto da casa dela.

— Sim, você lembra do meu open house né, Galhardinho? — ela avançou na minha direção e bagunçou meus cabelos — foi o dia que o Ulisses vomitou frango na minha sacada inteira.

— O dia do pastel? — Marina me perguntou, animada por conhecer uma história do nosso passado.

— Não, acredite em mim, o pastel foi só humilhante. O dia do frango ele teve que tomar soro no hospital e o Leandro ainda conseguiu o telefone da enfermeira dele. Épico — eu respondi, virando em outra rua, pois sabia que estava chegando na casa dela.

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora