Marina.
- Vitório, eu tenho vinte e nove anos, sério, você se preocupa demais.
Foi esse o som que me fez acordar. Demorei alguns segundos para entender que Rui estava sussurrando em algum lugar próximo, que eu estava deitada no chão enrolada no meu edredom e que de alguma forma ele tinha conseguido sair debaixo de mim e colocar um travesseiro no seu lugar para que eu não tivesse a maior dor nas costas de todos os tempos.
Cocei os olhos e me me sentei, conseguindo distinguir som de talheres e o cochicho baixinho de Rui que, pelo que pude perceber, estava na minha cozinha cortando alguma coisa.
- Eu dormi na Marina e, se a gente continuar falando, vamos acabar acordando ela - disse ele para Vitório. Aguardou alguns segundos, ouvindo o que o outro estava dizendo. - A gente só dormiu, caralho.
Vitório tinha acabado de perguntar para Rui o que eu achava que tinha perguntado?
Arrumei meu cabelo porque sabia que ele estava horrendo, fazendo um coque esquisito que provavelmente não melhorava muito as coisas, e me levantei. Rui estava rodeado de várias frutas cortadas e tinha tirado o casaco que estava usando no dia anterior, revelando a camiseta preta e os braços de quem frequentava a academia e a tatuagem de lobo que eu tinha descoberto pouco tempo antes. Evaristo estava brincando com seus dedos do pé.
- Ok, depois a gente se fala - disse ele, desligando o celular e largando-o sobre a bancada.
Ele demorou uns segundos para me notar e, assim que o fez, sorriu.
- Eu te acordei? - perguntou. Finalmente notei que, assim como eu, ele também parecia levemente amarrotado e cansado.
- Não tem problema - disse eu, sorrindo simpática e encarando a tigela de inox onde ele estava colocando as frutas que estava cortando. O relógio na parede anunciava que eram 10h14 da manhã. - Vitório parecia preocupado.
Rui sorriu, juntando os morangos que estava picando sobre a tábua com o restante das frutas.
- Ele é um pai preocupado e ficou muito irritado porque eu saí ontem e não avisei que ia dormir fora - respondeu Rui, dando de ombros.
- E perguntou se a gente tinha transado - observei.
- E perguntou se a gente tinha transado - confirmou, erguendo as sobrancelhas. - Mas acho que para um dia isso acontecer, vou ter que conseguir apagar a imagem de você babando e roncando, Maria.
Ei ri, mas fiquei um pouco nervosa com a ideia de Rui realmente ter me visto babando e roncando. Quero dizer, eu tenho um desvio de septo gritante que faz com que isso seja realmente possível, mas eu realmente estava contando com a ajuda divina de que meu corpo se comportasse bem quando outra pessoa estivesse assistindo.
Eu estava descabelada e com bafo naquele exato minuto, não estava?
Deuses.
Eu tinha certeza que ele parecia um anjo dormindo.
- Ainda bem que a gente não está com planos para isso, então - disse eu, pegando uma uva despretensiosamente e jogando na boca enquanto pedia a qualquer entidade divina que aquilo fosse o suficiente para disfarçar o possível hálito de pântano com qual eu estava após acordar. Eu nem tinha escovado os dentes na noite anterior, porque dormi em cima de Rui antes disso!
Dormi em cima de Rui. Provavelmente a única garota no mundo prestes a surtar por causa disso era eu.
- Fale por você - Rui gargalhou quando eu olhei para ele com o queixo provavelmente no chão. Eu sabia que ele estava brincando, mas mesmo assim! - Não precisa ficar tão ofendida, eu sei que você está emocionalmente indisponível pelo lance com o Galhardo.
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Amor em Revisão (Concluído).
RomanceA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...