CAPÍTULO 12 - Malu Guedes, prazer

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Felipe.

Eu passei meu domingo inteiro em uma infinita ligação com o Gael, enquanto ele me ajudava com o Jami Teriaki — provavelmente o sobrenome dele não era aquele, mas eu estava morrendo de fome e não conseguia parar de pensar em frango. O rapaz realmente sabia falar aquela língua secreta, porque ele estava até rindo enquanto pronunciava uma sequência de consoantes que não deveriam nem formar uma palavra completa.

Eu mandei um Rappi com cerveja e uma bela macarronada para ele como agradecimento, pois a entrevista durou mais de duas horas e eu tinha material para um manual completo sobre cervejas artesanais escandinavas, ou seja, Adelaide iria quebrar aquela carinha de porcelana quando eu chegasse pronto na segunda.

Não precisava dizer que eu estava vesgo de tanto olhar para a tela do meu computador, as dez e quarenta da noite quando Camila disse que ela, Ulisses e Leandro iriam assistir um filme novo argentino sobre pessoas no aeroporto — eu sabia que ela iria para pesquisar sobre seu artigo do comportamento humano em despedidas, Ulisses provavelmente ia para tentar dar uns beijos nela, mas o que o Leandro efetivamente estava fazendo no meio dos dois era uma incógnita. As vezes ele pensou que eu iria e se alistou para combate.

Tive que desligar meu celular para ter um pouco de paz quando terminei minha coluna de 800 palavras sobre a cerveja artesanal mais tradicional-moderna da Finlândia, explicando como o país produzia mais de 200 mil litros de cerveja por ano e a cerveja Sangen foi criada nas mesmas instalações que a Heineken era dona em 2010, regando o local com uma tradição de mais de 130 anos. Descobri, ao longo da extensa entrevista e com uma acidental piada em finlandês, que o Jami, na verdade, era apenas líder da área de marketing da empresa — o que significava que a Adelaide nem se dignou a pesquisar melhor sobre a pessoa que ela estava mandando no meu colo.

Foram necessárias três horas de inspiração original para começar o esboço da matéria e mais duas de revisão para que ela se tornasse algo interessante aos olhos dos leitores da VixSão+, afinal além de ser uma nova revista que tinha que conquistar mercado, essa coluna estaria na versão online, então eu não só tinha que ser moderno, mas também atraente e completamente versátil — nada contra, mas quem me conhece jamais me descreveria daquela maneira.

Talvez, por isso, quando o relógio do meu celular marcou onze da noite eu já estava dormindo, roncando a sétima sinfonia de Mozart e elevando meu espírito em um grau de plenitude que eu nunca havia alcançado, porque se eu fosse realmente expelir o que sentia, provavelmente soltaria labaredas incandescentes.

Algumas pessoas eram naturalmente bem-humoradas pela manhã.

Malu Guedes, mais conhecida como número dois, era uma dessas pessoas. Eu não.

Ela poderia ter todos os seus quase um e oitenta de altura, porém sua estrutura óssea era fina e delicada com seus cabelos ruivos naturais que poderiam cegar qualquer pessoa que olhasse para eles contra o sol — isso sem mencionar seus olhos azuis, porque isso vira só um detalhe na pintura completa.

Como uma mulher dessas sequer olhou para mim, eu jamais saberei, mas fui feliz todos os meses que se seguiram depois desse fato.

— Galhardo em pessoa — ela entrou na frutaria que tinha do lado do prédio da revista e me cumprimentou com um beijo na bochecha. Literalmente um beijo na bochecha, o que eu ainda achava estranho, porém era uma peculiaridade — se eu fosse uma pessoa carente, até cobraria que você só me chama quando quer um favor.

— Mas você não é — eu apontei com um sorriso, empurrando minha oferenda de paz na direção dela.

Malu sempre teve uma adoração por açaí em todas as suas formas, principalmente açaí com cupuaçu, então foi exatamente isso o que eu comprei para recebê-la as sete e meia da manhã em plena segunda-feira — tamanho grande sim, porque ela me xingaria de mão-de-vaca se eu comprasse menor.

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora