Amor em Revisão (Concluído).

CAPÍTULO 46 - Vicente, o gato

Marina.

Oficialmente, estávamos em outubro, o que era uma loucura, pois eu já morava em São Paulo há mais mais de seis meses e só tinha conseguido ir ao Espírito Santo duas vezes em todo esse tempo.

Vergonhosamente, na primeira vez, quase me algemei a uma castanheira na Praia da Curva da Jurema porque não queria voltar. Mas, sejamos sinceros, eu sentiria falta de São Paulo também, então voltei.

A revista estava indo de vento em popa e ouvi boatos de que a Super Sampa tinha entrado em processo de recuperação judicial, mas, ao contrário da No Pique e da É Massa, ninguém sabia o que fazer para tirá-los do buraco depois do estrago que a matéria de Vitório sobre plágio fez quando foi ao ar e outras revistas acusaram Juan de ter comprado funcionários do mesmo jeito vil que tinha feito com Adelaide.

Leandro, Josué e eu recebemos propostas para irmos para lá e tentar recuperar a empresa, já que tínhamos cuidado da fusão da VixSão e tinha funcionado. Mas, assim como Felipe fez, nós nos recusamos e seguimos nossa vida sendo guiados por G.G. e o próprio Galhardinho.

— Bom dia, Gael — eu disse, apoiando o braço na sua mesa e segurando os relatórios financeiros do mês anterior dentro de uma pasta. — G.G. está desocupada?

— Bom dia, Má — ele disse, sorridente. — Geórgia teve que sair, mas deixou avisado que você pode conversar com o Felipe.

Dei risada.

— Eu tenho certeza que ela faz isso para implicar com ele, coitado. Vicente continua sendo rebelde e se recusando a ficar na sala dela? — eu disse e Gael anuiu, risonho.

Felipe não gostava de números e era sempre uma tarefa engraçada apresentar os relatórios do setor financeiro para ele, então sempre acabava sendo tarefa de Geórgia, exceto que agora ela o estava punindo por ficar com seu gato.

Claro que ele já tinha tentado expulsar Vicente, o gato de Geórgia, de dentro da sua sala para que ela ficasse feliz e voltasse a lidar com os números e o deixasse com o editorial, mas Vicente era um espírito livre e tinha claramente feito uma escolha: ele ficava na sala de Felipe e Felipe que lutasse.

Bati na porta duas vezes e esperei que ele dissesse que eu podia entrar.

— Bom dia, chefe — eu disse, dando um sorriso que foi prontamente retribuído por Galhardinho enquanto ele indicava que eu me sentasse na cadeira à sua frente. — Trouxe os relatórios para você.

Felipe olhou feio para Vicente, deitado em uma almofada no canto da sala, perto de um vaso onde estava plantado um ciclanto consideravelmente grande que tinha muito mais cara de coisa de Malu do que de Felipe, propriamente dito.

O resto de escritório era bem a cara dele, no entanto. Livros de filosofia em prateleiras, um quadro com a edição mais vendida da VixSão (mudava constantemente, felizmente, e agora era a edição com a foto de Olivia Andrade na capa, com uma chamada sobre artes que tinha conquistado todo mundo) ao lado de um quadro onde estava escrito "O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra", uma frase de Aristóteles.

Ah, e claro, havia o icônico quadro com sua foto e os dizeres "Galã VixSão 2020", porque ele tinha vencido o concurso promovido por Tamara com uma clara vantagem sobre os demais concorrentes. Rui e Leandro ficaram com os egos feridos por semanas.

O resto era limpo, sóbrio e masculino como sua mesa costumava ser mesmo antes de ele ter uma sala exclusiva, exceto que com certeza ele não tinha mais um chiclete na entrada USB.

— Você está complicando a minha vida, Vicente — repreendeu o gato, que apenas o ignorou completamente e prosseguiu lambendo sua própria pata.