Felipe.
Eu estava com ressaca moral naquele sábado.
Não era exatamente o vinho, porque eu e a Tamara acabamos não bebendo muito e eu apaguei depois de... bem.
O problema foi que quando eu acordei no dia seguinte a minha companhia já tinha ido embora e eu tinha uma única mensagem no celular.
Malu: Tá vindo?
Eu não fui, claramente. Eu eu não avisei que eu não ia, mesmo que eu tivesse dito que eu iria.
Eu sabia que haviam coisas que eu tinha que fazer — terminar o meu discurso que eu era inocente, começar a corrigir os artigos que a Camila havia me mandado sobre finanças pessoais e como tudo está conectado com a psicologia, e fazer compras de supermercado, pois hoje Leandro e Camila não iam à feira — mas eu larguei tudo aquilo e dirigi até a casa da Malu.
Ela tinha que saber que eu não fiz aquilo de propósito. Que eu jamais faria aquilo de propósito.
Como eu fui... me esquecer?
Depois de quase atropelar uma pomba e passar por um sinal que era mais vermelho do que amarelo, eu estacionei em um ponto de taxi que não tinha nenhum carro, então eu tinha que ser rápido — eu tinha quase certeza de que o número de carros em São Paulo era maior do que o de pessoas, mas isso era um assunto para outro momento estressante.
Eu cheguei na portaria do prédio dela e interfonei direto para o seu apartamento.
Ela tinha que me escutar.
A Malu não poderia... eu não queria que ela me odiasse.
Tocou, tocou e ninguém atendeu.
Tentei de novo.
E de novo.
E de novo.
Ela não estava em casa.
Eu me afastei do seu portão quando uma garotinha tentou entrar na sua casa com um Lulu da Pomerânia — o que me lembrou da Marina e do Eva-Evaristo e que a última vez que conversamos... quando foi? — e peguei meu celular, tentando ligar para Malu Guedes, mesmo que eu soubesse que ela quase nunca atendia.
Meu Deus, quando foi que eu me tornei um amigo tão ruim?
Eu me encontrei com a secretária eletrônica mais de uma vez, até que um táxi realmente apareceu e começou a buzinar para o meu carro parado no lugar errado.
Não era assim que eu imaginei passar meu sábado de manhã.
Recebi uma mensagem da Marina dizendo que ela, Vitório e Rui queriam ir a uma festa junina e se eu não queria um pouco de diversão.
Eu digitei uma mensagem apressada, enquanto tentava sair daquela vaga ilícita, avisando que eu estava em uma busca pela Malu (para ajustar algo na entrevista com o Zé, eu falsamente justifiquei), mas que a Festa Junina do Clube Pinheiros era boa e ainda deveriam ter ingressos.
Eu girei quatro vezes ao redor do quarteirão dela e o guardinha da rua começou a me olhar estranho, então eu fui para casa.
E foi quando eu cheguei em casa que eu finalmente consegui conversar com a Malu.
— Alô? Fê? Tudo bem? Essa é tipo a décima vez que você me liga. Aconteceu alguma coisa? Precisa de alguém para desentupir sua pia? — ela gracejou e eu fiquei feliz por ouvir que ela estava bem.
— Eu sinto muito, eu... eu... — mas por mais que as desculpas se empilhassem em minha língua como um escritor extremamente inspirado, eu me sentia completamente sem coragem de dizer, pois eu me sentia culpado pela verdade.
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Amor em Revisão (Concluído).
RomanceA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...