Marina.
Quando eu abri o relatório de vendas da VixSão+, percebi que a ideia de vestir a capa de vilão não tinha sido de todo ruim, porque a saída da revista tinha sido apenas uns quinze por cento abaixo da minha projeção, o que, considerando todo o cenário, era a melhor coisa que podia ter acontecido.
Josué, que estava sentado bem ao meu lado, parecia concordar. Ele até tinha errado o nó da gravata naquele dia, mas resolvi não falar nada porque ele estava bem irritado.
Como conclusão, percebi que, às vezes, quando você está no meio do apocalipse, é melhor ser mordido pelo zumbi de uma vez e entrar na onda do que ficar tentando escapar. Às vezes o lado dos zumbis é melhor do que a guerra civil entre os humanos, especialmente se você é guiado pelo chato do Rick - eu precisava parar de ver The Walking Dead de madrugada.
— Não foi tão ruim, não é? — Josué perguntou, soltando um suspiro aliviado. Fiquei feliz, pois eu estava temendo por um segundo CPU quebrado ou por ser atingida por um grampeador em pleno vôo livre depois de ele dar um soco nele.
Claro que 15% a menos de venda era bem ruim, mas Josué e eu tínhamos previsto uma queda de pelo menos 40%, então estávamos em absoluta vantagem. Bem, alguma coisa teria que ser feita para reverter essa margem de perda porque nós não tínhamos como ter uma margem de perda naquele momento.
— Não, não foi — disse para ele, exportando o relatório para .pdf para conseguir atualizar as projeções. — Se conseguirmos recuperar a qualidade da revista e as vendas subirem.... sabe... não vai acontecer...
Estávamos evitando falar sobre "demissão em massa" porque nem todo mundo da VixSão sabia que a situação da empresa, mesmo após a fusão, era quase tão ruim quanto antes e que o estrago feito pela Super Sampa não se resumia em uma fama ruim. Pelo menos as pessoas estavam falando que nossas matérias eram melhores.
— É, mas vai ser difícil com o Ulisses. — Josué olhou de soslaio para onde o Redator Chefe interino estava. — Ele é legal, mas ele está guiando as coisas como num jogo de pôquer. Ele não sabe jogar pôquer.
Ele mal sabia o que era um baralho, eu diria. Ele era um bom repórter e suas matérias sobre saúde eram muito boas — eu literalmente tinha mudado meu jeito de escovar meus dentes depois de uma matéria dele —, mas como Redator Chefe ele era um fiasco.
Tudo bem, ninguém queria que ele aprendesse do dia para a noite o que Felipe fazia há anos e foi aperfeiçoando ao longo desse período. Não era razoável exigir isso. Mas ele ia acabar estragando tudo alterando o que o redator anterior tinha deixado pronto e toda a linha de montagem, ordem das matérias e cronologia que ele tinha planejado. Segundo Vitório, até os repórteres estavam meio perdidos no que deveriam fazer.
— Foi um sacrifício convencê-lo a trocar a fonte de Comic Sans para qualquer outra que ele quisesse. Talvez a G.G. perceba que ele fica melhor como repórter — disse eu, tentando ser positiva e cruzando os dedos.
— Porque ela é sempre muito razoável, não é, Má? — Josué cruzou os braços sobre o peito e fez uma careta.
Ele também não tinha gostado da nossa CEO ter acusado Felipe. Não sei se eles eram amigos ou ele apenas admirava o trabalho dele, ou mesmo se ele não ter gostado disso era porque ele tinha dois olhos na cara e conseguia enxergar o óbvio. De todo modo, eu gostava de Josué e a gente se ajudava bastante na nossa pequena área dos números.
— Falando em G.G... — iniciei, já com um pedido implícito nos olhos. Josué deu um sorriso descrente e soltou um arzinho pelo nariz, sabendo que eu pediria para ele levar os novos relatórios para Geórgia. — Por favor!
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Amor em Revisão (Concluído).
RomansA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...