Felipe.
Eu tinha quase certeza de que não deveria suar tanto ao prestar um vestibular, mas ali estava eu, 29 anos na cara, Sócio da revista mais comentada da atualidade, namorando a encarnação da beleza e... vestibulando.
De novo.
Mas desta vez tinha um gostinho um pouco mais doce, porque era para o que eu queria — eu amava o jornalismo, mas as vezes eu tinha minhas dúvidas se o jornalismo realmente me amava de volta, então eu queria testar minha sorte com a filosofia e ver se o match era certeiro.
Eu sei, eu sei, eu deveria ter estudado mais. Eu deveria ter me dedicado mais, só que eu realmente não tive tempo para isso, porque a vida era realmente um triângulo entre dormir, estudar e trabalhar, só que ninguém te contava que você só poderia escolher duas das alternativas e que haviam muitas outras variáveis no meio desta equação.
Então, quando eu escrevi a última palavra do meu domingo de redação sobre "Literatura, e a diferença entre a "alta" literatura e os "outros" livros", eu apenas entreguei aquela folha maldita para o fiscal e saí da sala, pois ela estava abafada e tinha cheiro de doritos.
Era como se eu fosse quinze quilos mais leve, pois a sorte estava lançada e se fosse para acontecer, aconteceria.
Encontrei Malu me esperando no portão da UNIP com um pote de açaí praticamente já devorado — ela estava travando uma batalha acirrada com aquele guardanapo que suja mais do que limpa e sua boca inteira estava manchada de roxo.
E eu nunca havia nada mais belo.
— Oi — eu me aproximei dela, beijando-a apenas para sentir o gosto de terra... quero dizer, açaí.
— Como foi? — ela saltou do seu banco e me pegou pelo braço enquanto nos aproximávamos do carro dela.
A troca foi clara, se nós iríamos morar no meu apartamento, então ela tinha o direito de manter o seu carro já que o prédio só tinha uma vaga, então vendemos o meu para fazer umas reforminhas básicas — de acordo com ela, porém eu já sabia que havia entrado em uma cilada quando ela apareceu com quatro cores de cinza extremamente iguais perguntando qual combinava mais com cimento queimado para a sala.
Eu esperava de verdade que apenas o nome fosse cimento queimado e ela não quisesse tacar fogo no apartamento para chegar até a tonalidade que estava imaginando.
— Eu realmente usei as dicas da regra de três da Marina para a parte de matemática e física, mas biologia e química acabaram comigo — eu estiquei o meu braço e meu cotovelo estalou.
— Hum, crocante, eu amo — ela mordeu o meu braço e eu apenas a abracei, gostando de como ela inteirinha se encaixava em mim das maneiras mais perfeitas que poderiam existir.
— Esperou muito? — eu perguntei assim que chegamos no carro e eu peguei a chave dela, pois da última vez ela havia dirigido e aquela era a minha vez.
— Ah, pouquinho, sabe que eu prefiro chegar adiantada do que atrasada, então eu meio que cheguei uma hora antes do horário que você tinha achado que iria sair — ela deu de ombros e colocou o cinto de segurança.
— Você chegou aqui as quatro? Me esperou por duas horas sozinha? — eu ajustei o retrovisor e ela deu de ombros.
— Eu estava na companhia de um açaí tamanho família, então tudo bem — ela sorriu para mim e seus dentes estavam praticamente pretos.
— Tudo bem então — eu dei partida e saí, vendo que o dia estava incrível e isso só poderia significar uma coisa: Eugências na Varanda.
♥
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Amor em Revisão (Concluído).
RomanceA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...