Felipe.
Eram sete e cinquenta e nove quando recebi uma mensagem de Leandro informando que iria se atrasar, o que não era nenhum mistério, pois ele basicamente vivia em um fuso-horário diferente, porque sempre que iríamos sair, marcávamos meia hora antes com ele para que ele estivesse no horário — o que funcionava muito bem.
Eu coloquei o celular dentro do bolso da minha calça e peguei o meu carrinho de feira, uma herança da vovó Minerva, e me coloquei a esperar o elevador do meu prédio que, por terem oito apartamentos por andar e quinze andares, a demora era clara e serena, então eu sempre entrava em modo zen enquanto o esperava.
Dez minutos depois eu já estava a caminho do ponto de encontro, que era na porta do metrô Sumaré, onde Leandro e Camila surgiriam para me encontrar.
A feira de sábado foi algo acidental que aconteceu no primeiro ano do Leandro na No Pique, quando fomos em uma balada — que a Camila disse que era sensacional, mas assim que chegamos na entrada da Augusta, soubemos que aquilo era uma cilada e era tarde demais para voltarmos — e eu não fazia ideia ao certo como fomos parar em Pinheiros, mas o caso é que as oito da manhã do sábado estávamos os três completamente alcoolizados comendo pastel de feira como se o mundo fosse acabar na manhã seguinte.
Depois disso, pelo menos duas vezes por mês a gente marcava de fazer feita ali juntos e comer pastel, porque o Baachan Kim — eu aprendi que isso significava avó e ela adorava quando a chamávamos daquela maneira mesmo que ninguém soubesse sequer como pronunciar aquilo — dava o primeiro pastel por conta da casa e conversava com a gente como se fôssemos seus netos distantes, o que a Camila adorava, pois não havia pessoa que gostava de falar mais do que ela.
Eu esperei apenas dois minutos quando Camila saiu do metrô com roupas normais, o que era raro ver, pois ela adorava uma boa oportunidade de se embonecar. Naquele dia ela estava com uma jardineira jeans e uma blusa mostarda por baixo — e eu aprendi que aquilo era mostarda e não amarelo depois de uma hora estudo de cores para mostrar como eu havia falhado como melhor amigo.
— Bom dia, raio de sol — eu a cumprimentei e coloquei meus óculos de sol centenários, pois estava quente e ensolarado, o perfeito dia para ficar em casa com o ar-condicionado ligado no máximo.
— Bom dia, bolinho de chuva — ela revirou seus olhos, jogando seus cabelos para o lado e nocauteando uma criança com o movimento, porém ela nem reparou — Leandro está no horário?
— Deve chegar em cinco minutos, ainda tá no tempo de tolerância — eu olhei para o meu pulso no meu primeiro e único relógio analógico.
— Você não tem uma polo normal como todo homem de 28 anos? — ela fez um beicinho enquanto analisava minha roupa e eu tentei ignorá-la, pois o meu guarda-roupa era um espaço que ela vinha tentando dominar faz anos, só que eu deixei claro que aquilo estava fora do limite.
Qual o problema em usar uma blusa escrito "O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete", porque Aristóteles deve ser louvado e apreciado e entendido?
— Bom dia, beldade — Leandro apareceu nos cumprimentando e Camila sorriu com o elogio — e bom dia, Camila — ele acrescentou de propósito, recebendo uma sacolada no ombro.
— Por que a gente anda com ele mesmo? — ela estalou a língua no céu da boca, andando na frente, em direção da feirinha que estava começando a se movimentar.
— Cotas, sabe que todo grupo precisa de um flamenguista sofredor — eu disse, pois mesmo que não gostasse nem entendesse de futebol, eu sabia que ele sim, então irritá-lo em pleno sábado de manhã era um prazer refrescante.
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Amor em Revisão (Concluído).
RomanceA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...