CAPÍTULO 21 - O menor mal

408 68 130
                                    


Felipe.

Eram quatro e quarenta e sete quando eu comecei a ver os sinais do fim dos tempos — tipo um Ragnarök dos tempos modernos —, mas eu realmente não quis acreditar. No entanto, eu deveria ter acreditado.

O dia de hoje foi frio, o início do inverno, ou seja, era o sinal número um. Depois veio o sinal número dois e três juntos, pois o Vicente, o gato da G.G., fugiu da empresa e ela convocou a Adelaide para correr atrás dele, ou seja o Lobo Fenrir e a serpente gigantesca Jörmungandr estavam juntos em algum lugar causando destruição.

Estes eram os sinais do início do apocalipse. Eu só não quis enxergar.

Tolo eu.

— Felipe, meu escritório, agora — G.G. disse em alto e bom som antes de entrar em sua sala.

Eu olhei para o Felipe do Gerencial, porém ele apenas deu de ombros na minha direção, afinal o "Felipe" da empresa era apenas eu, então eu enfiei uma pastilha de menta na boca, porque eu tinha certeza que ainda estava com hálito da coxinha do Veloso na boca — claro que a dona da ideia foi a Camila, mas eu não acreditei que até o Ulisses aceitou aquilo — e segui com meu caminho.

Vitório e Rui me olharam confusos, como se não fizesse sentido aquele chamado sendo que eu tinha uma revista para finalizar em duas horas, pois, verdade fosse dita, não fazia, mas eu havia escolhido a VixSão, então eu tinha que aceitar as loucuras da nossa CEO.

Eu dei três batidas apenas para me anunciar, pois ela já estava me esperando quando me chamou, não é?

— Vem aqui — ela apontou para a sua poltrona de couro importado. Era Alemã, das melhores e me deu um sorriso "querido", mas eu aprendi que isso era uma armadilha desleal, pois seus olhos não mentiam tão bem. Havia algo errado.

Pior do que quando ela havia anunciado as demissões do ano anterior.

O que estava errado?

— Eu preciso finalizar os detalhes da revista virtual agora e... — eu apontei para fora, pela primeira vez estava incerto do que estava acontecendo e aquilo não fez com que eu me sentisse bem. Muito pelo contrário.

— Felipe. Senta aqui — ela disse mais incisiva e eu logo a obedeci, pois tinha bom senso.

Eu me sentei correndo em sua poltrona e o couro alemão me abraçou tão bem que eu quase me convenci que ela havia me chamado para fazer uma reportagem dos diferentes tipos de couro naquele mundo e agora poderia testar das cadeiras mais simples até as mais sofisticadas...

Até que meus olhos pousaram na chamada de capa da nova edição virtual da Super Sampa, falando sobre sua coluna de cervejas ao redor do mundo, tipos de consumo de álcool, relacionamentos e amizades e... basicamente todas as reportagens que eu havia feito curadoria para a VixSao. Todos os nossos planos para as próximas três edições.

Uma revista combo de cem páginas, eles estavam oferecendo.

— O que...? — eu tentei falar, porém ela me parou, quando uma mão pousou em meu ombro, impedindo-me de sequer virar a cabeça.

— Como Redator-chefe, meu braço direito, como você acha que a nossa maior concorrente conseguiu entregar uma revista digital, com matérias, para não dizer iguais, vamos usar o termo semelhantes, anunciando tudo isso um dia antes de nós? — ela manteve sua voz leve e um sorriso nos lábios, instigando-me a abrir a minha alma e contar sobre tudo o que ela queria saber, porém eu também não fazia ideia.

Como?

Como?

Semanas de trabalho...

Nós não poderíamos usar o que tínhamos...

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora