CAPÍTULO 36 - Não falo finlandês

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Felipe.

Camila apareceu um tempo depois com os olhos vermelhos e eu larguei a minha conversa com Josué e Tamara para ir até onde ela estava, abraçando-a para escondê-la dos demais enquanto a levava para longe dos olhos curiosos, dentro da parte coberta do local.

— Cams, o que aconteceu? — eu sabia que ela não estava bem, pois em tantos anos de amizade, eu nunca havia visto Camila não conseguir sorrir, principalmente se pensássemos nas vitórias que conquistamos naquela semana.

Eu achei que ela estaria em êxtase por ter entregue uma edição de co-autoria comigo que quebrou paradigmas e metas de vendas.

Nós havíamos feito história e a Geórgia deveria erguer um monumento em nossa homenagem — ou só um bônus no ano seguinte já estaria de ótimo tamanho.

— Eu sou filha da puta? — ela sussurrou a pergunta e seus olhos começaram a se encher de lágrimas. Ela não precisou piscar para que as mesmas começassem a escorrer pelo seu rosto e eu quisesse guardá-la dentro do meu bolso para nunca mais ver lágrimas manchando sua pele — você acha que eu sou uma pessoa filha da puta?

— Cams, eu sei que a sua mãe namorou muitos homens, mas eu tenho certeza de que ela nunca cobrou... — porém eu parei com a minha piada, pois ela apenas mordeu seus lábios com força, cerrando suas mãos em punhos — Não, Camila, você nunca foi e nunca será filha da puta.

— Mas eu fui uma pessoa horrível com Ulisses, não fui? — sua voz falhou e ela colocou suas mãos na frente dos seus olhos, soluçando provavelmente pela milésima vez naquele dia.

Eu vou matar aquele cara!

Eu vou matar!

— Camila, você talvez não disse exatamente com todas as letras "Ulisses, eu te beijei em uma festa, mas não significa que isso vai acontecer de novo", mas todo mundo sabia que você se sentia assim e talvez até mesmo ele soubesse, por isso ele foi tão insistente por tanto tempo — eu segurei os seus ombros, sentindo-a tremer contra o meu toque, então eu apenas a abracei com mais força para tentar dar um pouco de estabilidade que ela precisava — você não é uma pessoa ruim. Muito longe disso. Você é uma mulher maravilhosa.

— Então por que eu me sinto tão mal? Eu não... — ela hesitou e eu senti suas mãos envolvendo minha cintura quando sua cabeça pendeu contra meu ombro.

Eu sentia a minha blusa molhada pelas suas lágrimas.

— Porque você é uma pessoa ótima e partir o coração de alguém te deixa mais triste do que a própria pessoa que o coração foi partido — eu fiz cafuné nos cabelos dela e Tamara se aproximou de nós, porém eu meneei minha cabeça e ela concordou comigo, fechando uma porta que separava a festa do local que eu estava e eu agradeci em pensamento — ele te machucou?

— Não. Não — ela meneou a sua cabeça na minha direção e eu concordei — ele só estava muito triste e resolveu me dizer todos os motivos pelos quais ele estava triste.

— Isso pode machucar também, sabia? — eu afastei um pouco nossos corpos e limpei suas lágrimas — o machucado que nós não vemos é muito mais grave do que o que nós vemos.

— Sempre com uma filosofia para curar minha alma imortal — ela riu com a sua voz arranhada e rouca.

— Cams, repete comigo: "eu sou incrível" — eu pedi e ela começou a se afastar de mim — repete comigo.

— Felipe, não — ela revirou seus olhos e eu segurei a sua mão — não.

— Camila Nogueira.

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora