CAPÍTULO 17 - Pipoca com chocolate

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Felipe.

— Eu odeio essa cena, é tão anticlimática — eu murmurei, enfiando um punhado gigantesco de pipoca na minha boca.

— Você está xingando uma das cenas de amor mais lindas do cinema — Malu revirou os olhos para mim, encolhendo-se ainda mais contra a coberta que estava em cima de seus pés frios — ela é um benchmark para diálogos de amor.

Eu continuei olhando para a televisão, quando Leia disse “Eu te amo”, e Han Solo respondeu “Eu sei”. Malu suspirou e limpou uma lágrima que estava escorrendo dos olhos dela.

Havia apenas uma pessoa que amava Star Wars tanto quanto ela e a pessoa era George Lucas, mas o cara simplesmente criou a história, então era a mesma coisa que amar um filho, você aceitava com todos os defeitos que ele não deveria ter, porém que tinha e é isso.

Eu já havia assistido a trilogia original e a “nova” duas vezes com ela em ordens completamente distintas. Nós maratonamos tudo quando a Disney anunciou o lançamento da trilogia de encerramento da Saga dos Skywalker e eu juro que nunca tinha visto essa moça tão feliz quanto no dia que eu comprei os ingressos para a pré-estreia — e nunca vi tão triste quanto… bem, se você assistiu, você sabe.

— De verdade? O Fred dizia “Eu sei”? Aposto que você o teria mandado à merda se ele tivesse feito isso — eu considerei, bocejando, pois, por mais nerd que eu fosse, eu não era esse tipo de nerd.

Eu preferia livros intelectuais e conversas que nos levavam a questão da nossa existência, porém ela sempre foi fascinada por filmes de qualidade super-estimada e frases pré-prontas.

— Fred? Dizer “eu te amo”? Não. O Junior que fazia isso, mas ele distribuía “eu te amo” para todo mundo que abria uma porta para ele. De verdade — ela me contou e eu não consegui deixar de rir, imaginando a cena e qual seria a reação da pessoa que recebeu aquela declaração inesperada.

— Você e seus homens — eu meneei minha cabeça, ainda rindo dela, agradecendo por tê-la em minha vida até hoje.

Eu sei que no momento que eu contasse para Camila que havia contado para Malu primeiro sobre o fim do meu precoce rolo com a Marina, ela com certeza comeria a tampinha de todas as minhas canetas, então eu tinha que resolver esta situação na segunda antes que ela tivesse acesso ao meu material.

No entanto, foi quase como um instinto, um reflexo. Meu corpo trabalhou antes mesmo que eu pudesse raciocinar, e aparentemente o de Malu também, pois, pelo que eu havia entendido, ela estava dando uma pausa no projeto para a VixSão+ quando eu liguei — só que eu tenho certeza que ela estava tirando uma soneca pelo seus olhos inchados e o rosto amassado.

A parte de ela ter brigadeiro era mentira, mas nós matamos dois potes de sorvete de chocolate belga que ela havia comprado naquele dia mesmo e aquele era nosso terceiro pacote de pipoca.

Ela me ofereceu álcool para amortecer a alma, mas eu não estava triste, então aceitei apenas um copo de coca, pois pipoca salgada e coca gelada era a melhor combinação que a indústria do cinema havia criado.

— Sua vez de escolher o filme — ela me ofereceu e abriu sua gaveta de DVD’s, pois ela era esse tipo de pessoa.

Sim, Malu Guedes não tinha uma conta no Netflix. Mais estranha não dava para ficar.

— Gosto de “A Era do Gelo”. O primeiro filme, claro — eu comentei e ela concordou, pois nós já havíamos discutido aquilo uma vez e chegamos a conclusão que os outros filmes da série não mereciam um espaço na gaveta de DVD’s dela.

O primeiro era uma obra de arte!

— Vou pegar uma cuba pra mim, tem certeza que não quer? — ela me ofereceu de novo a sua bebida preferida: rum com coca, e eu estava prestes a negar quando ela levantou o seu indicador na minha direção, pedindo silêncio — você não precisa dizer não se quiser dizer sim.

Amor em Revisão (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora