Marina.
É claro que levar um cachorrinho para uma festa não era uma coisa muito inteligente de se fazer, mas Evaristo estava muito manhoso — o suficiente para eu tê-lo levado até Anabel para que ela pudesse diagnosticá-lo e, em sua rápida análise, entendeu que seu problema era total e exclusivamente vontade de tirar uma com a minha cara, então eu não podia deixá-lo sozinho.
Especialmente quando ele ia poder farejar o cheiro de Rui em mim. Eva não me perdoaria pela traição de ter visto Rui Casagrande sem ele e provavelmente faria xixi no meu tapete novo como retaliação. De novo. Eu não queria pagar mais trezentas dilmas em lavagem a seco.
Não que eu tenha tido... Contatos diferenciados com Rui que justificassem que seu cheiro se impregnasse em mim, mas, se estamos sendo sinceros, quando ele me abraçava e seu perfume ficava preso no meu cabelo até eu lavar. Vitório me contou que era Sauvage, da Dior, por isso a duração era tão boa.
E eu sabia que era porque eu podia jurar que meu cardigã preto, que eu tinha usado no dia que a gente se beijou, ainda tinha cheiro de Rui Casagrande. Ou talvez fosse eu, totalmente alucinada pelo fato de que a gente tinha se beijado.
Sabe, minha boca na boca dele.
E aí a língua.
E as minhas mãos no cabelo loiro e macio e seus braços apertando a minha cintura e...
Ok, não era grande coisa. Várias garotas já tinham passado por essa mesma experiência e não tinha motivo para surtar, certo?
Era o Rui.
O cara que me chamava de Maria.
Que tinha tido um crush em mim há milênios e que provavelmente só tinha me beijado para provar para o seu próprio ego que podia dar uns amassos na Marina, a garota que tinha um namorado. Provavelmente ter me beijado alterava em zero sua percepção sobre mim: a garota dos números, meio nerd, baixinha demais para ele, sua amiga. Exatamente como Vitório, e ele não tinha intenção de beijar Vitório (que eu soubesse).
Mas ele continuava me chamando de Marina. E tinha me recebido na nossa "VixSão Não Oficial" com um abraço um pouquinho mais demorado que o usual, e então sussurrou um "bem-vinda" no meu ouvido que arrepiou pelos de áreas que eu nem sabia que arrepiavam e eu tenho certeza que ele deslizou o nariz no meu pescoço. Ou talvez tenha sido a gola da sua jaqueta e eu estivesse enlouquecendo!
Porque, sejamos sinceros: beijar Rui era uma experiência memorável (jamais direi isso para ele ou precisaremos de um outro planeta para colocar seu ego), mas era o Rui.
Sabe, o Rui! O cara bonito e desapegado e interessante que sabia que era bonito e desapegado e interessante e usava isso para seus interesses mais sórdidos. Ele não tinha, sabe, mandando mensagem, ou dado a entender que queria continuar me beijando ou...
Por que eu estava pensando nisso?
Quero dizer, ele é bonito (neste momento, com esse sorriso lindo enquanto ele conversa distraidamente com Felipe do gerencial e Cleyton, fica muito nítido o quanto) e é legal e vive me provocando com piadinhas com segundas intenções e...
Ah, é claro que ele escorregou em uma poça do xixi de Evaristo e quebrou uma garrafa de Eugência. Felizmente ele mesmo não caiu e Evaristo estava protegido no colo de Leandro, tentando lamber seu rosto a todo custo - ele tinha uma queda por galãs e ninguém podia julgá-lo sobre esse assunto.
— Desculpa! — pedi, me aproximando do local onde Rui estava, desviando todos os pensamentos impróprios que envolviam ele e sua boca e eu. — Está tudo bem? Eu não tinha visto que Eva tinha feito xixi! Ele está manhoso e talvez eu devesse contratar um adestrador e...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor em Revisão (Concluído).
RomanceA vida de Marina Carvalho era completamente satisfatória. Trabalhava em um emprego que ela gostava, na cidade que ela viveu desde sempre e tinha um namorado que parecia perfeito. Até que fez as contas e descobriu que as coisas não estavam tão bem:...