Fúria

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  Eu estava em fúria e aquilo não era um sentimento esporádico. Era contínuo.

Mas poucos viam por baixo dos meus disfarces tão bem montado, afinal, eu era um jogador. Eu me tornei um jogador perfeito antes mesmo que falasse corretamente. Eu tinha a alma de um e quando me dei conta, já fazia os jogos como um especialista.

Era uma habilidade natural, como tantas outras que fui adquirindo.

Eu vivia em raiva e piorou muito quando fui mandado para um internato no exterior. Fui tirado de casa, não que aquele lugar algum dia foi um lar, nem remotamente perto, mas era o que eu conhecia e meu irmão mais velho convenceu meus pais que seria o melhor para minha educação. Qual não foi minha surpresa ao perceber que a única pessoa na minha casa congelante que eu considerava ao menos próxima, era um traidor?

Ele me queria longe não porque era o melhor para mim, mas sim por inveja de mim.

Talvez aquela foi minha maior chave de virada. O estopim da minha fúria com eles e com o mundo.

Talvez.

Minha fúria era controlada, raramente ela saia das minhas mãos, mas nessas ocasiões as coisas sempre ficavam difíceis, não para mim, óbvio, mas para quem estivesse no meu caminho. Assim mesmo eu ardendo em ódio profundo, meu rosto pouco demonstrava.

Minha voz muito menos. Nada em mim denunciava o que ia por baixo da superfície, poucos sabiam o que existia dentro de mim ou do que eu era capaz.

Minha beleza ajudava também na perfeita camuflagem.

Como eu disse, eu era um exímio jogador, minto. Eu sou um perfeito jogador.

Mas naquele momento eu realmente só queria uma pausa da rotina ridícula de me fingir de adolescente e por isso me lembrei dela.

Magnólia Margot.

Conheci aquela mulher no dia do meu concerto de piano com Yo, que soube ser o sobrinho dela na ocasião e naquela noite ela tinha me dito muitas coisas, mas a mais importante foram aquelas palavras que nunca esqueci:

"Você é um de nós, criança, você é um dos meus, ainda que jamais aceite. Se um dia quiser pertencer a OMMP, meu palácio sempre estará aberto para a sua mente brilhante!"

E por isso estava indo para lá. Eu tinha quinze anos, já era emancipado. Estava farto de ser obrigado a agir como um 'adolescente comum". Eu não era uma criança idiota como as outras.

Eu era mais do que os meros mortais com quem era obrigado a conviver.

Eu sou infinitamente mais genial e estava pronto para saber tudo o que aquela mulher era capaz e do que eu mesmo era capaz no mundo dela. Queria vingança dos meus pais, do meu irmão, dos falsos amigos que me meteram naquele escândalo injusto.

Eu queria destruir todos eles.

E ela... Seria útil aos meus planos.

E foi com aquele pensamento e decisão racionalmente pensada que entrei no suntuoso palácio central que eles chamavam de Domo. Aquele lugar era o centro de uma organização secreta de mais de dois séculos. Era um mundo a parte, um mundo dentro do mundo comum. Uma sociedade infinitamente trilionária, poderosa, com ramificações no mundo todo e com suas leis próprias. Aquilo era poder e para minha vingança... Eu precisaria de poder, já que dinheiro não era o problema.

Eram minhas férias do internato, era o melhor momento para vir cobrar a promessa daquela mulher e a raiva que ardia em mim, me dava impulso para seguir adiante até ela, através de salões e corredores, seguindo um guarda qualquer.

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