Insano

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Eu o vi erguer as mãos e as olhar com um olhar incrédulo... Um olhar... Incomum.

Meu êxtase passou rapidamente e tensão tomou seu lugar. Por fora, no entanto, eu nada demonstrei, como um hábito entranhado em mim tão arraigado que era impossível agir diferente.

Can se sentou na cama de forma rápida e parecia extremante perturbado. Confuso...

Seu olhar... Tinha algo completamente diferente e aquilo me inquietou.

— Impossível...

Me empertiguei.

De fato, ele estava estranho, seria efeito da primeira bebedeira? Para quem não estava acostumado era algo atordoante.

Deveria ser, por isso voltei ao meu estágio original decidido a provocá-lo um pouco:

— Eu não diria isso, seu tolo. Você estava tão bêbado ontem à noite que dormiu por mais de doze horas sem nem se mover da cama. Impressionante como seu sono é profundo. Eu liguei para sua mãe ontem avisando que ia ficar em minha casa noite passada e hoje. Temos uma dívida agora, Can.

— Tin...

— Sim, sou eu, não existe outro Tin – Can tinha usado algo mais do que álcool? Se ele tivesse feito, iria se arrepender nas minhas mãos! Criança tola! Acabei apontando para o banheiro, ele tinha que ficar lúcido um pouco, tínhamos que conversar - Tem toalhas, roupa e aspirinas. Vá virar gente, Can.

— Eu estou aqui, mesmo...

— Sim, e temos uma dívida, você sabe. Eu te salvei noite passada, agora você me deve.

Can riu baixinho e assentiu.

Eu evitei me erguer e ir até ele puxar seu rosto e ficar cara a cara para enxergar nas profundezas rasas daqueles olhos o que diabos estava acontecendo. Algo estava completamente fora de contexto e meus sentidos estavam ariscos com a desconfiança.

Ele riu baixinho e então levou a mão na barriga e aquilo ao menos, era terreno seguro.

— Vá tomar banho e vamos comer, não se preocupe, vou mandar fazer um almoço substancioso.

Can se virou rápido demais para mim e por alguns segundos seus olhos reluziram outro brilho desconhecido.

Era ele, mas um ele que eu desconhecida. Era ele... Intenso.

Então algo passou por sua mente, quase perceptível pelos olhos límpidos, ele engoliu em seco e logo parecia ele de novo.

Eu precisava tocá-lo, algo estava completamente fora de sintonia e mesmo a nossa pequena distância me fazia ainda mais perturbado sobre aquele fato.

— Can, está tudo bem?

Fui para a beira da cama e por alguns segundos quis com todas as forças segurá-lo até estarmos olhos nos olhos para que assim eu pudesse responder a dúvida perturbadora na minha mente.

Era neura minha? Tínhamos ficado uma semana inteira sem nos ver, o que ele fez, onde ele esteve, por que eu me sentia nervoso sobre aquilo?

— Acho que eu vou vomitar...

Ele disse de repente e eu quase sorri, sim, esse era ele.

— Vá, vá para o banheiro, anda!

Disse aliviado e logo o menor correu para o banheiro trancando a porta.

Era neura minha, só podia, eu também bebi demais todos aqueles dias imaginando mil cenários hipotéticos e insanos.

Eu também não era a pessoa mais em seu juízo perfeito aquele dia.

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