Metamorfose

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— Eu sei, isso é ridículo, mas é o que há.

Seunghoon disse com cara de quem comeu algo ruim e eu não me sentia muito diferente.

O loiro cheio de tatuagens e eu estávamos ambos bebendo em um camarote reservado em meu nome em um dos clubes mais infames de Bangkok. Eu não podia me encontrar com um tipo daqueles em um local onde alguém do meu círculo social fosse nos ver. Eu já tinha problemas demais com aquela corja High Society.

Olhei de novo para a ficha quase inexistente do baixinho trogloditinha e evitei de esmagar os documentos entre meus dedos.

— Ele tem dezenove anos e nunca na vida saiu com alguém? Nunca infringiu nem lei de jardim de infância, nada. Nunca teve uma nota menor que oito a não ser em inglês... Ele existe?

Seunghoon deu um sorriso amargo e assentiu:

— Existe e seu garoto está dormindo com ele há duas semanas como senão houvesse amanhã e pasme, ele até abre a porta para o seu garoto embora não seja o motorista. Mais contos de fadas, impossível. Existe uma certa garotinha que anda atrás do baixinho, mas é carta fora do baralho, o baixinho só tem olhos para o seu garoto. Ele divide o quarto com um falastrão que curte filmes pornôs e pasme outra vez, o baixinho não dá a mínima. Pode canonizar – Ele deu de ombros - Por isso demorei mais para investigar, pareceu impossível para mim também, até fiquei curioso, olha só.

Desviei meus olhos para a pista de dança lotada de adolescentes com hormônios aflorados e inutilidades no cérebro e pensei que alguém que não fosse com a manada, nem que fosse um pouco apenas, não podia existir.

— Sobre a família...?

Minha voz soou sombria e eu tinha noção do quanto.

— Família de comercial de sopa tailandesa. Pequeno negócio de comida lícito, cem por centro, irmão com filha pequena, a criança é o amor da vida do baixinho, me deu diabetes. Contas impecáveis, reputação impecável. Penso que quando descobrirem que o filho mais novo é gay, se continuará desse jeito, mas por enquanto é o que temos. E ah! Tenho uma informação que ninguém pediu, mas que acho pertinente. A mãe do seu garoto... Aprovou o baixinho. Sério, eles almoçaram e tudo, ela sorriu, pegou na mão dele, disse para ele cuidar do filho. Ela sabe, e ela aprova. Chefe – Ergui meus olhos com a voz mais baixa e subitamente compenetrada do detetive ilícito que agora trabalhava para mim por enquanto – Ele está feliz. Não estou dizendo feliz como um adolescente tolo qualquer, ele está mesmo feliz. Sei que não é da minha conta e não é isso que pediu, mas... Não posso fingir que não vi o que eu vi nesses últimos dias. No grampo do telefone da casa do seu garoto eu peguei uma ligação da mãe dele com uma parente distante e ela disse várias vezes que nunca viu o filho tão feliz. Nas palavras dela – Ele fez aspas no ar – "Meu filho finalmente cresceu e se tornou um homem. Ele achou o que procurava e isso aliviou meu coração de mãe desde que peguei ele no colo pela primeira vez. Hoje eu sei que não falhei miseravelmente como mãe".

Eu evitei me mexer, quase mal respirar.

Minha mente iniciou um raciocínio frenético e por longos e intermináveis minutos eu fiquei ali, em silêncio, processando tudo aquilo.

Pete queria amor, eu sabia, eu sempre soube, eu via nos olhos dele desde a infância. Ele queria algo que não existia no seu mundo mesmo que este fosse perfeito e cheio de luxo. Não foi uma única vez que eu o peguei em ações embaraçosas na infância até aos dez anos quando eu finalmente fui mandando para longe de Bangkok. Quando voltei ainda havia aquele ar de perda e infelicidade.

Ele procurava algo, ele procurou aquilo por muitos e muitos anos e no caminho topou com embustes e agora... Ele encontrou.

A mãe de Pete era uma dama elegante e que circulava pouco no High Society, o porquê eu nunca soube nem me interessou até agora, mas talvez... Fosse pelo filho.

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