Espelho

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  Em um momento eu estava olhando para o espelho que me refletia e no outro era o A.I do Can me encarando. Suspirei. Eu tinha passado por aquilo da outra vez. Ele tinha uma forma de atravessar espelhos em qualquer ponto do mundo desde que houvesse dois pontos de conexão e com isso poderia atravessar outras pessoas. Um era o espelho antigo e oval que Can sempre mantinha com ele, e que no momento estava no quartinho do padre na casa paroquial dentro da ecovila e o outro era um espelho... Mágico, eu mal conseguia falar aquela palavra sem rolar os olhos, espelho esse que o cachorro tinha trazido do mundo dele e funcionava como porta de saída, desde que o A.I o levasse para o ponto que desejasse através de outro espelho.

Fizeram isso na França e aparentemente fariam agora.

O A.I saiu do espelho do banheiro carregando o espelho mágico do tamanho de um espelho comum de penteadeira média com bordas de ferro envelhecido e colocou escorado na parede de canto.

— Você tem certeza de que é seguro o Can ou o Pete usar isso daí estando grávidos?

— Can já estava gravido da outra vez – Ele respondeu se virando para mim com cara de paisagem. Ele era uma cópia fajuta do Minseok, usava a imagem dele, mas para mim não parecia em nada, assim como o usurpador não era o meu Can. Ele riu irritante – Pare de chamar seu marido de usurpador.

— Aquele não era meu marido.

— No futuro, eu irei esfregar isso na sua cara.

— Tente, veremos.

— Sua mente é totalmente irritante.

— Então não entre nela, seu estúpido!

— Olha só quem é o estupido aqui! Não fui eu quem....

— Jili?

A voz do Can o chamou, provavelmente ainda do outro lado do espelho em algum ponto daquele corredor branco sufocante que eu simplesmente odiei e ele fez biquinho irritado como uma criança. Eu sorri mau.

— 'Xô, 'Xô, vai atender seu dono, vai!

— Eu te odeio!

Ele me olhou em fúria e eu ri de forma mais maldosa ainda. Aquele amor era recíproco.

E em segundos ele entrava e junto dele Can saía do espelho vindo para mim e me abraçando forte.

Eu fechei meus olhos sentindo os braços que eu tanto amava em torno da minha cintura e o cheiro gostoso da pele dele próximo da minha percepção. Estar com ele nos braços era como meu paraíso pessoal, era maravilhoso e eu sentia falta de forma desesperadora embora eu mantivesse aquela fraqueza longe até mesmo da minha mente.

Acariciei com o nariz a pele sensível dele atrás da orelha e ele se remexeu todo, resmungando fofinho:

— Tinnnnn isso faz cócegas! - Ele se afastou um pouco e me olhou nos olhos entre preocupado e amável – Você está bem? Jili disse que um espírito desencarnado te levou até um templo para te afastar do tempo comum e te manter longe dos olhos dos curiosos nos primeiros dias da... Bem....

— Então foi por isso também que a assombração fez eu me sentir dirigindo por dias, Nice.

Disse irritado e Can suspirou:

— Você está mesmo bem?

Ele tocou meu rosto e eu fechei os olhos por consequência, praticamente por instinto me deixando sentir o toque e a presença dele. Eu respirava definitivamente melhor com Can me tocando. Era como meu milagre pessoal...

— Ei, você disse milagre, Can, o babaca é crédulo, ora vejam só...

Abri meus olhos e peguei a primeira coisa que vi, era um porta sabonete e joguei certinho na cabeça dele que infelizmente não era físico e atravessou o holograma irritante.

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