Desespero

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 La Bohemia Bangkok era um cassino bar caríssimo em uma área privilegiada da cidade. Um local onde se você quisesse se embebedar e esquecer do mundo sozinho em uma jaula dourada, você poderia tranquilamente.

E eu precisava daquilo urgentemente, por isso não pensei duas vezes em pegar uma das suítes e pedir todo o estoque de Johnnie Walker que eles tinham. Na quinta garrafa eu já riscava as paredes com o meu canivete rindo da minha própria desgraça.

Na sétima eu brincava de atirar o objeto cortante nas lâmpadas do lustre principal e na décima eu quebrava as cadeiras na parede e ria enquanto empurrava a Tv imensa para o chão lustroso.

Dentro de mim era o Caos. Eu estava puro Caos, raiva, tristeza e miséria.

Não havia conclusão, só havia dor e desespero.

Eu não podia viver em um mundo onde ele não estivesse e ao mesmo tempo eu o queria de volta ao antes de tudo aquilo começar a se tornar problemático. Eu estava de fato no final da linha, na beira do penhasco.

Na desolação de um coração estraçalhado.

Sem ele... Eu não poderia conceber mais nada.

Não havia sol, não havia oxigênio, não havia nada em um mundo sem ele, então eu precisava lidar com as mudanças, eu tinha consciência daquele fato ainda que estivesse completamente bêbado.

Eu tinha consciência.

Eu ria histérico olhando para paredes luxuosas e pensando que tudo o que eu queria era olhar os olhos do meu Cantaloupe e vê-lo ali.

Mas talvez eu tivesse que aprender a ver ambos, e não só um deles.

Cai no sofá quando tudo apagou e em minha mente eu o chamava em pânico.

Eu tinha medo de um mundo sem ele, um mundo...

Sem ele comigo.


Eu caminhava naquela escuridão com o sentimento pesado de exaustão e uma fraqueza sufocante. Can ficava cada mais vez mais longe e por mais que eu gritasse o nome do meu Cantaloupe, era como gritar com paredes. Aliás as paredes apareciam e desapareciam como uma nevoa ora espessa, ora intocável. Tudo era confuso e cheio de dor, uma dor que gritava, choramingava pelos cantos, e queimava a minha pele.

Algumas sombras ainda mais escuras naquele sonho que não terminava se arrastavam pelos meus pés chorando para que eu acabasse com aquilo e outras me empurravam para onde Can sempre desaparecia. E ele desaparecia.

Para o meu desespero... Desespero...

Então ofeguei terminando por cair de joelhos naquele chão escuro e congelante. Meu peito ardia, tudo ardia, minha garganta estava seca e algo em minha cabeça resmungava que era o excesso de uísque. Outra parte, porém, me dizia que tudo aquilo era porque eu ainda estava mergulhado em orgulho.

Então pés nus pararam a minha frente e de repente um rosto de um garoto angelical surgiu diante dos meus olhos. Olhos negros, cabelos negros caindo nos olhos, pele pálida e para meu assombro, no lugar da mão direita, uma longa espada grossa continuava como se fosse uma extensão do membro.

Ele me olhou fixo e então se ergueu me estendendo a mão sem a arma sinistra:

— Vamos, um profano não desiste nunca, está em nossa alma amaldiçoada, a persistência insana. O amor da sua alma está a sua espera, e ele sempre estará à sua espera, está se preocupando com as coisas erradas.

— Ele está estranho, aquele não é o meu Cantaloupe...

Minha voz era lamentosa, minha garganta ardia e minha mente estava turva.

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