Perdido

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— Meu senhor, tem uma visita querendo lhe ver no Hall. Devo convidá-lo a entrar?

Eu ergui meus olhos do copo meio cheio de vodca e sorri cínico. Claro que seria o Pete. Só poderia ser ele.

Era sexta feira de manhã, ele tinha a ousadia de vir me cobrar?

Claro que teria.

Assenti e a empregada saiu.

Me levantei e nem me dei a preocupação de arrumar a camisa meio aberta. Eu não dormia há cinco dias de todo o modo. Se ele achava que ia me dar algum sermão, que ele visse então minha aparência muito pouco apta a conversa, ainda que fosse quase sete da manhã.

Eu tinha dado todo o espaço que suportava para o Can, eu devia ganhar o prêmio de melhor comportamento de quem levou um fora nessa existência. Sorri de novo extremamente irônico e fui até o bar pessoal do meu quarto pegando uma garrafa premiada de Carbenet Sauvignon, duas taças e fui em direção a sala de visitas.

Pete estava sentado educadamente, como sempre. Vestido e alinhado no uniforme, como sempre, contudo o olhar não era algo normal. Ele parecia extremamente preocupado.

Ri baixo e fui até ele estendendo uma taça:

— Tire essa cara de quem perdeu o melhor amigo inestimável e beba comigo.

— São sete da manhã, Tin.

— E existe hora para brindar? Eu não sabia dessa etiqueta em particular.

— Tin... – Pete tirou a garrafa da minha mão e suspirou irritadinho – Você não deveria estar desse jeito nem faltar a todas as aulas da semana. Sei que é mais inteligente do que todos os nossos professores juntos, mas isso não ajuda em nada. Você precisa... Sabe, Lutar.

Arqueei as sobrancelhas e quase ri. Sério que ele estava falando aquilo para mim?

— Está lendo romances açucarados agora, Pete?

Ele desviou os olhos, estendeu a mão vazia e soou frio:

— O abridor, vamos beber então, que seja.

— Ótimo.

Estendi o abridor a ele que claro, abriu com a mesma desenvoltura que fazia qualquer outra coisa e logo eu estendia as duas taças para que ele derramasse o líquido carmim. Ele era tão perfeito e pontual. Como ele podia se desperdiçar com um trogloditinha pobre?

Ele fez apenas assim como você fez, seu estúpido!

Resmunguei internamente.

Logo ambos íamos para a janela, cada um com a sua taça, virados para o dia já iluminado.

— Eu não o vi nessa semana. Não sei se essa informação te ajuda ou não.

Ele disse por fim. Eu olhei para a taça e a virei toda, como um alcoólatra desistente.

— Eu também não o vi, se serve de consolo a nós dois.

Resmunguei cínico.

Pete não se moveu, mas a sua voz saiu um pouco mais fria em seguida:

— Não seja assim, Tin, você sabe que ele gosta de você.

— Claro, vou ir lá e roubá-lo para mim, trancar em uma casa e só soltá-lo quando ele se confessar.

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