— Tin!
Abri os olhos e olhei de lado. Pete vinha em minha direção saindo do carro dele estacionado de qualquer jeito perto dali.
Eu me sentei no capo do carro onde estava deitado e esperei.
Dos autos falantes do meu carro tocava um ária da ópera Rinaldo, 'Cara Sposa' e eu tinha estado ali por algum tempo depois do sol nascer, no alto daquela colina desértica.
Pensando.
— O que você...?
Pete parou do meu lado, não terminando a pergunta e suspirou claramente irritado. E eu sorri.
Tinha enviado uma mensagem para ele com o endereço e poucas palavras:
"Venha me acalmar, segue o endereço".
Claro que ele estaria em fúria contida agora.
— Can está gravido.
— TIN!
— É verdade – Respondi lacônico e desviei os olhos voltando a encarar a paisagem rupestre distante – Espelho mágico, gravidez inexplicável, cachorro falante, ordem secreta religiosa bizarra, tudo real. Can é essa... Essa pessoa estranha agora que eu não reconheço, mas ainda amo de loucura. Eu serei capaz de dar tudo a ele, ser tudo por ele, fazer o que ele quiser ainda que isso me leve ao penhasco da insanidade. Ele terá filhos em menos de três meses e eu ainda não sei se consigo ver isso com meus próprios olhos.
Ele suspirou longamente e logo eu sentia uma das minhas mãos ser cobertas pela dele:
— Tin. Seja o que for, enfrentaremos isso juntos. Tudo bem? Você confia em mim, assim como confio em você?
Assenti silencioso. Eu precisava de algo familiar, eu precisava saber... Que ainda eu era eu, que Pete era o Pete ainda que Can não fosse o Can.
— Você... Pete – Me voltei para ele sabendo que eu parecia uma pessoa desvairada diante da catástrofe - Se ele morrer com isso, eu não sei do que seria capaz, então fique por perto de mim, é um pedido. Eu... Só fique comigo, você é o único agora que pode me controlar.
— Tin...
E logo eu era puxado para os braços dele e ali eu fiquei um longo tempo.
Ficamos abraçados por um longo tempo enquanto Cara Sposa mudava para Erbarme Dich e esta, para uma coletânea de árias de óperas clássicas.
Os batimentos dele eram serenos como um lago tranquilo e eu entendi como eu precisava daquilo. Como eu estava desesperado por uma âncora pacífica.
Se Can era meu oxigênio, Pete era meu equilíbrio.
— As vezes... É preciso ignorar as faltas de explicações, Tin. Tem coisas que simplesmente são.
Suspirei longamente e pousei a cabeça em um dos ombros macios e fechei os olhos:
— Volte comigo, quem sabe eu consiga alcançar esse nirvana.
Pete riu baixo e me abraçou mais forte:
— Eu irei onde você precisar que eu vá. Apenas peça.
— Desculpe te tirar da cama, outra vez.
— Está perdoado.
Ele me afastou e para meu assombro, me beijou suave. Foi um selinho, mas ainda assim... Me fez voltar um pouco a mim:
— Seu trogloditinha vai querer me matar.
— E você está louco para vê-lo irritado, Tin, eu sei disso – Pete cutucou meu nariz de forma doce e eu acabei sorrindo. Era verdade... – Seja mais amável ou não conseguirá avançar com o Ae.
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Tin
Romance- Você destruirá o mundo, garoto. A voz da mão direita da rainha, Ren, soou irritada e tensa. Eu, naquele momento coberto de raiva - Algo que sempre me acompanhava desde que nasci - E um certo desejo de destruir todos que me irritavam e principa...