EXTRA - Corvo

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O plano era primeiro eu entrar, pegar o rifle e a munição, sair, armar Yao e então voltar para pegar minhas coisas e as do Phu e claro, levar meu sobrinho dali.

A parte legal e dentro da lei seria feita depois, assim comigo e com ele longe de Bangkok por uns dias, também afastaria todo o perigo para a família na ecovila.

Essa foi a parte que mais Pete resistiu em concordar, mas ele sabia como eu o que era melhor no geral.

Era entrar e sair, limpo e fácil.

Contudo eu soube que não ia funcionar nada do planejado quando entrei no escritório do meu pai e me deparei com uma figura alta, de cabelos negros repicados e imensas asas negras que saiam do sobretudo longo, me esperando no meio do cômodo com olhos silenciosos para a porta que eu cruzei.

Eu olhei para os olhos dele, negros, profundos e sombrios e minha mente recordou tudo o que me esqueci ao longo dos meses. O encontro com o cartomante, com o necromante e com ela... A bruxa loira.

Era como se o tempo suspendesse enquanto eu me lembrava, enquanto ele permanecia a seis passos de mim, absurdamente imóvel. Fui parar sob um joelho como se as lembranças pesassem toneladas jogadas sobre meu corpo de uma só vez. Eu ofeguei e por alguns segundos pensei se estava tendo a recaída que o Dr Jin tanto temia.

— Não Tin, você não cairá essa noite e em nenhuma outra noite por longas e longas décadas. O que sente agora é o peso da verdade. Toda verdade pesa e nos oprime enquanto vivemos. Você faz parte de tudo isso, de toda a magia incrustrada no mais recanto do seu ser. Você renegou a morte e o descanso, você se trouxe até aqui. Você e o faraó é a tríade com ela, assim como eu e meu consorte o é. Não importa o tecido do tempo, somos pontos nele, juntos, intrínsecos, na morte, antes dela e depois dela – Ele recolheu as asas como um pássaro faz quando pousa e se curvou para mim, ainda com um dos joelhos no chão – O estuário é o caminho da maioria das viagens, tudo no fim corre para o oceano como uma bainha é a casa de uma espada. Eu estou aqui por você como você um dia estará por mim. Deixe as armas, pegue a criança e vá para o mais longe que puder. O faraó será avisado, não se preocupe com eles, apenas com o menino.

Uma das minhas mãos estava no chão apoiando meu corpo pesado junto do joelho e então vi o tapete que a um segundo estava seco, molhado de líquido espesso rubro, tudo... Era sangue. Tudo, chão, parede, escorrendo do teto, pingando ao meu redor.

— O quê...?

— Este lugar não mais te abriga nem ao seu filho. O faraó lhe salvou do sangue e dele você deve se afastar, suas mãos não mais o toca – Então fui erguido e quando o olhei de novo, quem me erguia era eu, ou uma versão estranha de mim, com asas brancas e olhos marcados em vermelho - Ele é um corvo negro, você um corvo branco. Ambos trilham o mesmo caminho. Ouça-o.

— Que diabos!

Esse eu estranho sorriu irônico e então era mais eu, para meu arrepio interno:

— Ele não existe mais. Agora vá, pegue a criança e nunca mais olhe para trás. Nada aqui te diz respeito outra vez. Deixe o resto aos abutres e mantenha suas asas longe desse local. Quando o dia nascer nesse chão, não haverá Piravich a não ser os que te orbitam. Acabou a velha era. Você construirá a nova.

Então o rosto mudou e era o cara das asas negras outra vez que me soltou.

— Vá. Vá agora!

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