Dor

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 Aquilo doía e não que é que eu não estava acostumado a dor. Eu estava, mas não daquela forma.

Eu não podia revidar, e isso me enlouquecia, porque eu descobri... Que eu amava aquela criatura irritantemente problemática.

E enquanto eu arremessava o vidro meio cheio ainda, naquele salão luxuoso dentro daquele cassino ilegal, e via a garrafa de whisky se espatifar na parede cheia de outras garrafas, eu ria amargurado. O líquido escuro escorria em cântaros da parede pelo chão, assim como meu controle estraçalhado.

Alguns seguranças vinham correndo em direção a mim enquanto eu sorria ainda mais, tantos idiotas, o mundo estava repleto de tantos idiotas e eu tinha acabado como um deles naquele maldito e longo dia.

— Senhor... Por favor, isso...

Um dos seguranças disse tenso.

— Não se aproximem dele, ele está louco!

Aquele era o barman, com certeza. Eu não precisava me virar para saber, eu tinha percepção de tudo ao meu redor, ainda.

— Ele vai pagar, ele sempre paga.

Alguém disse e eu quase ri, enfim, eu não era tão desconhecido no submundo de Bangkok.

— Foda-se!

Outro gritou e eu pulei o balcão chutando as garrafas ainda intactas e imaginado que aquele era o mundo filho da puta que eu deixei me influenciar.

Eu só queria matar aquele eu imbecil que se entregou na mão de uma criança voluntariosa. Aquele... Aquele pinscher barulhento tinha ousado me dispensar como se eu fosse nada.

Nossos sentimentos eram tão diferentes assim? Como eu podia sentir tudo isso e ele nada? Como podia!?

Eu sangrava e ele estava com certeza dormindo tranquilo na sua casinha, em sua vidinha comum e perfeita de bolsista alienado. A dor...

Ah! Droga de dor...

— Parem ele! Vocês estão loucos, ele vai se matar!

Seria o gerente? Talvez. Eu não me importava nenhum pouco.

Olhei minha imagem distorcida por um espaço de espelho ainda intacto, peguei uma garrava de martini e joguei com força moderada naquele espaço até tudo se estraçalhar.

A bebida escorria, tudo escorria, tudo era líquido, instável, doloroso...

Então alguém segurou meu braço e eu me voltei pronto a arrancar as mãos imundas de mim, eu jamais deixaria alguém me tocar outra vez, mas vi...

A Joy.

— Vamos.

Ela não me disse mais nada, contudo me puxou dali e eu... Fui.

— Como você...?

— Soubemos que você teve problemas, peguei o primeiro voo para cá.

— Mandaram a irmã errada.

— Eu quis vir.

Ela se voltou para mim e deu um meio sorriso. Eu ri cínico:

— Seja lá o que tenha em mente, eu estou em um dos meus piores humores, não abuse.

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