Santana

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Britt havia realmente brincado sobre não dançar, constatei que: se a mulher já se movia assim com passos improvisados, imagine o que ela faz em algo profissional! aquilo foi melhor do que a maioria das minhas experiências sexuais até então, sempre gostei de mulheres que sabem se mexer. naquela noite compreendi por que a salsa é tão fascinante. É uma dança que diz: "Esqueça o amanhã, vamos festejar!", e foi exatamente o que fizemos, nos entregando exclusivamente ao prazer do momento, a única coisa que nos fez abandonar a pista de dança foi o dress code da casa: ali não era permitido dançar sem roupa. Assim, chapados de tequila, saímos pela noite e nos jogamos dentro de um táxi, o banco de trás era suficientemente espaçoso, mas, quando dei por mim, estava sentada no colo de Britt e ainda rebolava ao ritmo da salsa, chegamos ao hotel e corremos escadaria acima até o meu quarto, ali já não se tratava mais de uma tencenação. Mais tarde, para fugirmos do calor escaldante do quarto, nos embrulhamos nos lençóis amarfanhados, subimos até o telhado e nos sentamos no beiral, balançando as pernas no ar. A brisa era um verdadeiro bálsamo, e as nuvens deram lugar a um caótico manto de estrelas, era como se fôssemos anjos, encarapitados numa nuvem a muitos quilómetros da Terra, lá embaixo, na rua, uma pequena multidão havia se juntado para assistir a um velho filme preto e branco, projetado sobre uma parede cravejada de balas. Um dos meus favoritos: Ginger Rogers e Fred Astaire, com mais de cinco metros de altura, dançando como se fossem duas metades de uma mesma pessoa, e foi assim que me senti quando Britt me apertou em seus braços, Na manhã seguinte, acordei com a luz do sol sobre meu rosto. Sentindo dores por todo o corpo — depois de tanta dança e de todo o resto —, espreguicei os braços, profundamente agradecida por estar viva e mais feliz do que havia muito não me sentia, talvez mais do que nunca, virei na cama, tateei o outro lado e... nada além de um amontoado de lençóis. Suspirei. uma noite de sonhos ou apenas um sonho bom? de um jeito ou de outro, foi bom enquanto durou, de um jeito ou de outro, foi-se embora com a manhã. Fazer o quê...
Estava acostumada a ficar sozinha. Sempre andava sozinha. Era assim que eu vivia a minha vida, por opção, mas tinha sido bom pensar de outra forma por uma noite, recostei-me novamente no travesseiro e tentava recuperar uma partícula que fosse do meu sonho maravilhoso quando ouvi uma chave girar na fechadura, sentei-me na cama e cobri o corpo com o lençol. Seria a polícia de novo? A porta se abriu e lá estava ela. Brittany, Tão real e esplendorosa quanto na noite anterior.

Olá, forasteira — eu disse.
Olá pra você também. — ela caminhou até a cama, os olhos sempre fixos nos meus, trazia presentes:  uma xícara fumegante de café e o jornal da manhã.
Acho que os camareiros fugiram — ela disse. — Fiz o que pude — Dei um gole no café, e ela jogou o jornal em cima da cama.
Mmm... Café con leche. Muito bom.Espero que sim, tive que ordenhar a cabra com minhas próprias mãos.
Eu ri e disse: — Uma dama capaz de arriscar a vida por uma xícara de café... Impressionante. —  Britt parecia assustada, caminhou até a janela, afastou as cortinas e observou o movimento nas ruas, a vidraça havia se estilhaçado no dia anterior, uma fumaça negra pairava ao longe, escurecendo o céu mas eu não via nada além de Brittany, e a manhã estava linda. Suspirando, abri o jornal e levei um susto, uma flor se escondia na dobra dos cadernos. uma florzinha singela. daquelas bem vira-latas, que contrariando todas as probabilidades, brotam nas rachaduras de uma calçada velha. A flor mais linda que havia visto em toda a minha vida.
Alguma coisa interessante no jornal? — perguntou Britt, sem se virar para trás.
Não, nada — eu disse sorrindo, colocando a flor atrás da orelha, depois voltei ao jornal, fazendo um tremendo esforço para não me apaixonar por aquela mulher maravilhosa, tudo o que é bom — eu já sabia disso — dura tão pouco quanto uma flor do campo atrás da orelha, o jornal trazia várias fotos da chacina do dia anterior, aquela cidade não era mais um lugar seguro, meu trabalho já estava feito, eu já deveria estar longe dali.
Você ficou me observando dormir ontem à noite — eu disse casualmente. — Fiquei? — ela retrucou, com dissimulada inocência, aninhei a cabeça no travesseiro, estiquei os braços para o alto e disse:
O que você viu?
— O que foi que ela viu...? — Britt virou-se para mim e recostou o corpo no parapeito da janela, analisando-me como se eu fosse uma obra de arte que ela havia comprado na Sotheby's e acabara de desembrulhar na sua própria casa, aproveitei o momento para estudá-la também e cheguei à conclusão de que aquela mulher, emoldurado pela luz matinal que vazava pela janela, poderia causar um terrível complexo de inferioridade no Davi de Michelangelo.
Ela viu a si mesmo voando de volta para casa, imaginando qual seria o sobrenome dela — falou Brittany por fim.
E ela, o que viu? — Fiquei surpresa com a resposta dela, emocionada mesmo, e prestes a sucumbir ao seu feitiço. "Que sentimento delicioso", pensou uma parte do meu cérebro, "E perigoso demais" contra-argumentou a outra. Muitas palavras me vieram à mente, eu era ótima nos jogos do coração e sabia como manter as coisas no âmbito do flerte, sem muito compromisso.
Ela viu a si mesma caminhando em Chinatown — eu disse — imaginando se ela gosta de jazz tanto quanto eu. — uma resposta inteligente e sexy, reconheci.
E ela — devolveu Britt — admitiu que talvez haja algo mais sublime do que uma silenciosa partida de golfe numa manhã de domingo. — "Sossega, coração", meus lábios quiseram dizer, antes que eu puxasse as cobertas a altura do queixo.
E ela ficou pensando em como ela adoraria sua torta de limão — falei
em tom de brincadeira, de repente, Britt deitou seu corpo contra o meu, e o humor de antes deu lugar a uma intensidade que me deixou sem fôlego: — Ela concluiu que a noite passada se tornaria o modelo de noite ideal para o resto de sua vida. — seus olhos me desafiavam a abandonar a segurança das respostas recatadas. E assim, apesar do medo, eu respondi com honestidade: — E ela achou exatamente a mesma coisa. —  Britt baixou o rosto a poucos centímetros do meu, os olhos azuis demonstrando cautela. Então ambas estávamos com medo. Sabendo disso, senti uma espécie de arrebatamento no coração, quase uma tontura. 
O que acontece depois? — ela sussurrou.
Tudo — eu disse, e ela rugiu como um tigre faminto antes de nos jogarmos nos braços uma da outra e nos afogarmos num beijo que parecia não ter mais fim.

Sra. & Sra. Lopez (Brittana)Onde histórias criam vida. Descubra agora